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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

sexta-feira, abril 30, 2004

U2 em Portugal - e eu estive com eles

A quem possa ter escapado, e como bem evidenciou o Público de hoje, os U2 vieram a Portugal, em absoluto sigilo (nem a própria editora em Portugal sabia da sua pequena passagem pelo nosso país). De acordo com a notícia, eles vieram para uma sessão fotográfica do novo álbum. Hoje à tarde, eu e mais 9 ou 10 pessoas com informação privilegiada, conseguimos estar 10 ou 15 minutos com eles, tirar fotos e trocar umas palavras. Para que conste, é um grupo de 4 indivíduos simples, simpáticos e do mais acessível que conheci. Sem excepção. E a boa disposição parece reinar neste pequeno grupo de irlandeses. O líder da banda, Bono Vox, apareceu com um fato azul e, como eu estava mais próximo, esticou-me a mão e cumprimentou-me. É óptimo poder conhecer o líder da maior banda do mundo sem ser num papel de jornalista, de entrevistador. A cumplicidade, creio, deverá ser completamente diferente e ele olhava-me como um fã, de forma descontraída, e não com a distância profissional que os jornalistas devem receber. É, também, interessante conhecê-los fora de um concerto. Conhecer, não os U2, mas o Adam, o Larry, o Edge e o Bono. E o novo álbum vem a caminho.

Tiago Pimentel

segunda-feira, abril 26, 2004

Night Blog - A IMAGEM

Se a noite pudesse casar com o dia, seria o casamento perfeito. A união da complementaridade perfeita. Onde um oferece a vivacidade da luz, o outro deita-se com a serenidade do escuro. Quero acreditar nessa complementaridade, até porque todos os corpos se deviam completar. Talvez porque, numa perspectiva bíblica, caminhemos todos pelo mundo sem uma costela. Ou talvez apenas porque fomos ensinados a procurá-la. E é isso que torna tão poética (e porque não romântica) a descida da noite sobre o dia. Como se da escuridão se abandonasse o pudor e procurássemos os sinais do erotismo cuidadosamente escondido da luz do dia. A noite desperta o sexo. Desperta como se de dia ele dormisse num corpo agitado pelo ritmo do trabalho, do cansaço, das pessoas, dos corpos. O dia aguarda a noite como uma boca seca que esgota a última gota de saliva para procurar um pouco de água. É o desejo perfeito: o de dois amantes que nunca antes se viram mas que se projectam um no outro. Como se a noite o cobrisse por inteiro por umas horas, o suficiente apenas para baralhar o sentido da verdade. Ou serão os sentidos? Afinal são 5, não são? Quantas verdades? As que se desejarem! É noite e as imagens são outras, ultrapassam-nos como corpos celestes que a luz do dia não soube iluminar. Ou talvez os nossos olhos não soubessem procurar. Que sentido faz, falarmos dos sentidos da verdade, se não compreendemos os nossos próprios sentidos? O que é uma imagem? Serei eu a mesma a imagem de dia e de noite? Qual das duas me favorece mais? Com qual das duas devo casar? Com nenhuma. Apenas o dia deve casar com a noite, pois apenas eles se entendem na sua apaixonada oposição. Apenas eles recriam o verdadeiro sentido do real. Assim mesmo, sem plural. Na pluralidade habitamos nós, humanos à procura de imagens, de corpos, de olhares, de sorrisos, de alguém que nos complete o plural e nos transforme em singular novamente. De alguém que nos ajude a encontrar apenas um sentido, uma verdade, uma imagem. Apenas o dia e a noite o conseguem. Porquê? Porque desconhecem que o outro existe. Porque nunca se hão-de encontrar. Porque não existem imagens, apenas olhares.

Tiago Pimentel

sexta-feira, abril 23, 2004


I've never been nice, but I'll try to be sweet.

Site Oficial

Class.:

Assim como Charles Bronson tocava a harmónica em «Aconteceu no Oeste», David Carradine sopra na flauta em «Kill Bill Vol. 2», a segunda parte da saga sangrenta de Quentin Tarantino. Vi-o hoje de manhã e, enquanto apreciador modesto do primeiro filme, devo dizer que este, apesar de diferente, me deixa igualmente indiferente. Abandonou-se a acção, ganhou-se alguma confidência (mas também alguma redundância e muita conversa da treta), exageraram-se as influências (e o efeito de disk-jockey cinéfilo), abusaram-se dos estereótipos (o episódio de Pai Mei é berrante, tanto na composição do velho mestre barbudo como na colagem aos zooms dos filmes de Hong Kong dos 70's) e concluiu-se tudo num final previsível besuntado por discursos romântico/niilistas para sustentar a tentativa de homicídio da Noiva na igreja. O humor do Tarantino está mais insuportável do que nunca e consegue quase comprometer os momentos sérios do filme.

Gosto muito de «Cães Danados» e «Pulp Fiction» e sou fã incondicional daquele melodrama melancólico mas fulgorante chamado «Jackie Brown». Mas creio que, desde o início, a saga «Kill Bill» tem sido mais sobre Leone, Morricone, Sonny Chiba, etc. do que sobre a Noiva e Bill. Tecnicamente irrepreensível e um exercício de cinefilia apaixonada, «Kill Bill» parece-me desapaixonado pelo seu próprio universo trágico: uma mulher assassinada pelo pai do filho que ainda carregava na barriga. Sendo um filme que faz questão de sublinhar as suas citações (e de viver à sua custa) não é estranho que, depois, quando suceda um momento mais determinante ou melodramático tudo soe um pouco falso. Como se continuasse a ser, apenas e só, uma citação.

Tiago Pimentel

segunda-feira, abril 19, 2004

E já há trailer do último filme de Steven Spielberg: «The Terminal». Pelas imagens parece-me que Spielberg recupera o registo visual e de humor que experimentou em «Catch me if you Can», desta vez para contar uma história de amor entre um emigrante (Hanks) condenado a reconstituir a sua vida no terminal de um aeroporto em NY, e uma hospedeira (Zeta-Jones) lindíssima. Conhecendo Spielberg como o conhecemos, esta não será uma vulgar comédia romântica nem tão pouco um banal filme biográfico/ficcional que se limite a inventariar uma sucessão de situações curiosas vividas num aeroporto. Sentem-se Hawks e Capra a espreitarem e os fantasmas do cineasta a assombrarem cada milímetro da sua película desde o dia em que um camião anónimo o perseguiu para as entranhas dos estúdios e, desde então, nunca mais o largou.

Trailer The Terminal

Tiago Pimentel

sexta-feira, abril 16, 2004

Fui ver o novo filme dos manos Polish, Northfork. Sendo um delírio desequilibrado, tem coisas muito boas lá dentro, outras mais redundantes. Gosto muito da fantasia do miúdo, com todos os adornos barrocos que essa dimensão possibilita e, mais do que isso, sustentando sempre novas formas de vivermos relações humanas e as suas mais subtis variações dramáticas. Já a história dos evacuadores liderada por James Woods me parece demasiado simbólica e demonstrativa, desequilibrando e desvalorizando as subtilezas narrativas do grupo de anjos. Aliás, toda essa história (a dos anjos) tem uma aura familiar muito comovente, como se os receios da nossa orfandade pudessem ser desconstruídos pelo poder do sonho e da imaginação. Cinema hélas!

Tiago Pimentel

sexta-feira, abril 09, 2004



«Shattered Glass», de Billy Ray

Uma pequeno tesouro que vale a pena descobrir. Seguindo uma lógica de telefilme, mas com uma arquitectura formal e uma entrega humana notáveis, «Shattered Glass» é, seguramente, um objecto a procurar e a reflectir. Sufocante na melhor tradição do cinema liberal americano e vertiginoso como um melodrama, conta a história do jornalista norteamericano que inventava, literalmente, artigos mirabolantes para o The New Republic.

Podia ser um vulgar telefilme sobre a inventariação de situações que se sucederam a Stephen Glass no despiste trágico da sua jovem carreira. Mas «Shattered Glass» é muito mais que isso: converte as coordenadas situacionais e biográficas da sua história num exercício sobre a perversidade da inocência. Ou seja, subverte a condenação fácil dos actos legal e moralmente condenáveis do protagonista e coloca-nos nas ambiguidades dramáticas e humanas da sua esfera mais pessoal. Conhecer as informações detalhadas e calendarizadas desta história seria sempre um ponto de partida interessante, mas estaria desamparado pelo factor humano. Ainda bem que Billy Ray se apercebeu que um filme é mais que uma sucessão de acontecimentos. Acima de tudo, é sobre as reacções humanas que se (des)constroem sobre esses fenómenos. Um exercício quase teatral e imperdível.

Class.:

Tiago Pimentel

domingo, abril 04, 2004

Porque vivemos tempos tão baralhados e confusos, tempos que contaminam o espaço humano que tentamos partilhar, tentei reflectir um pouco sobre isso e redigir um texto apropriado. Mas alguém já o fez, melhor do que eu alguma vez o poderia fazer. Porque ele escreve estas letras sem um pensamento ordenado por uma prosa; antes, socorre-se das pontuações de uma bateria ou das suspensões eléctricas de uma guitarra para conjugar uma reflexão que tem tanto de desespero como de serenidade. Digamos que ambos os sentimentos convivem na dualidade que nos acaba por definir. Uma dualidade que tem tanto de beleza como de terror. É nessa dualidade que habita a impossibilidade do consenso. Mas, quem sabe, consigamos um dia deixar de procurar o consenso e encontrar o equilíbrio? Ou talvez deixássemos nesse dia de ser humanos. Porque, infelizmente, é nessa impossibilidade que respiramos.

Heaven on Earth
We need it now
I'm sick of all of this
Hanging around

Sick of sorrow
I'm sick of the pain
I'm sick of hearing
Again and again
That there's gonna be
Peace on Earth

Where I grew up
There weren't many trees
Where there was we'd tear them down
And use them on our enemies

They say that what you mock
Will surely overtake you
And you become a monster
So the monster will not break you

And it's already gone too far
You said that if you go in hard
You won't get hurt

Jesus can you take the time
To throw a drowning man a line
Peace on Earth

Tell the ones who hear no sound
Whose sons are living in the ground
Peace on Earth

No who's or why's
No one cries like a mother cries
For peace on Earth

She never got to say goodbye
To see the color in his eyes
Now he's in the dirt
Peace on Earth

They're reading names out
Over the radio
All the folks the rest of us
Won't get to know

Sean and Julia
Gareth, Anne, and Breeda
Their lives are bigger than
Any big idea

Jesus can you take the time
To throw a drowning man a line
Peace on Earth

To tell the ones who hear no sound
Whose sons are living in the ground
Peace on Earth

Jesus in the song you wrote
The words are sticking in my throat
Peace on Earth

Hear it every Christmas time
But hope and history won't rhyme
So what's it worth

This peace on Earth
Peace on Earth
Peace on Earth
Peace on Earth

- U2



Tiago Pimentel

sábado, abril 03, 2004

TVI em excesso de velocidade

Começa a ser desesperante as sucessivas desresponsabilizações jornalísticas da TVI. Agora estão armados em entidade policial alternativa e suprema do nosso país. Primeiro andaram a colocar malas espalhadas pelo aeroporto e a passar armas lá para dentro para medir a segurança (que todos sabemos ser precária), com o único objectivo de semear o pânico. Agora, perseguem os políticos a ver quantos andam em excesso de velocidade, esperando retirar alguma ironia moralista dos homens que redigem as leis, transformando-os em palhaços apanhados em flagrante. Para provar que os políticos excederam os limites, os jornalistas da TVI seguiram-nos em viaturas próprias, filmando o seu velocímetro. Ora, corrijam-me se estiver enganado, mas ainda nenhuma entidade superiora endossou à TVI poderes e autonomias policiais. Colocando a questão de outro modo: se os políticos iam em excesso de velocidade, os jornalistas não iam também? Mais ainda, existem mais provas factuais de que eles iam mesmo em excesso de velocidade, já que os jornalistas se encarregaram de filmar os seus próprios velocímetros indicando, preto no branco, as velocidades que excederam. Mas ninguém ainda se lembrou de acusar a TVI de nada. Mesmo pessoas com quem tenho falado acham a reportagem vergonhosa, mas ninguém refere a ilegalidade em que os jornalistas estavam a incorrer e como essa ilegalidade compromete a seriedade do código da estrada do nosso país e a eficácia da sua consequente aplicação. Só vejo uma razão: a TVI faz parte de uma das áreas de acção da brigada de trânsito e, como tal, serve de órgão informativo e denunciador para auxílio da nossa segurança. Aliás, eu ando a ver se me torno técnico da TVI (sei lá, como transportador de cabos ou coisa do género) para poder andar a conduzir completamente embriagado pela cidade. Mas atenção, é apenas para demostrar que é possível andar a conduzir por Lisboa com 1,2 de taxa de alcoolémia sem a polícia me mandar parar e, assim, denunciar mais falhas no nosso penoso sistema de segurança. E se atropelar umas pessoas pelo caminho, melhor ainda. Este país não tem mesmo segurança nenhuma!

Tiago Pimentel

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