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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

segunda-feira, novembro 20, 2006



I want to try something. I want to see if you stay together or if you dissolve into molecules.

«Antes do Anoitecer» (DVD), de Richard Linklater

Classificação:


Depois do amor

Eles não se viam há 9 anos, depois de viverem a noite mais intensa das suas vidas. Ele escreveu um livro sobre essa noite e ela trabalha em assuntos humanitários. O meu desejo romântico queria, mais do que tudo, juntá-los, mas a minha consciência partilha do desencanto dele. Que desencanto? Não se trata de nenhum desencanto romântico, apenas o desencanto próprio de quem lamenta as suas próprias memórias. Não que desejasse não as ter vivido, mas sobretudo, vivê-las de outra maneira, com uma outra maturidade que a juventude lhes negara. Quando ele a reencontra, há um jeito desajeitado nele a procurar-lhe o rosto para a beijar cordialmente. Talvez seja o jeito próprio de quem revisita um lugar antigo, inseguro da sua geografia afectiva. O olhar triste dele entristece-me sempre que o relembro e o sorriso desencantado dela é suficiente para encantar o mundo dele. Ambos lamentam as escolhas que fizeram no passado, desejando que tivessem sido menos românticos, mais conscientes das suas opções. Porque não trocámos de números? pergunta ele.

Há qualquer coisa na câmara de Linklater que tem tanto de discreto como de subtilmente presente. Em boa verdade, se há espaço para Ethan Hawke e Julie Delpy construirem um palco de genuíno realismo, é Linklater que lhes concede o protagonismo da câmara. Já em «Antes do Amanhecer», os lugares cediam a sua beleza ao encanto do casal (alguns lembrar-se-ão dos planos finais de «Antes do Amanhecer», daqueles lugares vazios e desencantados pela ausência dos dois apaixonados). Em «Antes do Anoitecer», Paris existe para além dos seus símbolos mais reconhecíveis, dispensando a grandiloquência da Torre Eiffel ou do Arco do Triunfo, concentrando-se nos pequenos detalhes da cidade, dos cafés, das pessoas... «Antes do Anoitecer» é um filme passado depois do amor, depois do fim dos contos de fadas. E é extraordinariamente cruel, tanto para eles como para nós.

É cruel sentir a irreversibilidade do tempo, das escolhas, do envelhecimento. Sentir que só na juventude é possível sonhar com aquilo que, mais tarde, descobrimos que não podemos ter. O meu lado militante e optimista acredita que todos podemos lutar pela nossa felicidade, mas ao mesmo tempo apercebo-me que, quanto mais caminhamos, mais peso têm as decisões que tomamos. E eles sabem tão bem disso... Ele confessa ter escrito um livro para ela e ela uma música para ele e acabamos no mesmo ponto de suspensão do primeiro filme. O meu olhar de criança impele-me para a tradição dos contos de fadas, mas no fundo sei que o intenso realismo do filme não (cor)responde a nenhuma utopia romântica. Há uma nova maturidade em «Antes do Anoitecer», diferente da do filme anterior... uma outra interrogação, mais perturbante e complexa: e depois do amor?

terça-feira, novembro 14, 2006

Uma brevíssima interrogação, ainda absolutamente siderado pelo impacto majestático da última obra prima de Martin Scorsese: será possível sairmos de uma sala de cinema com uma nova identidade? (seremos nós a mudar, ou será o mundo à nossa volta que ganha novas formas?)

terça-feira, novembro 07, 2006



Dans Paris

Classificação:


Dentro do cinema



Será possível recuperar a ligeireza trágica que as imagens da Nouvelle Vague pareciam sussurrar como se os pequenos detalhes afectivos do mundo e dos seus actores pudessem encerrar em si a imprevisibilidade irreversível da verdade? Como se a sequência dos detalhes mais efémeros do mundo pudessem compor uma história tanto mais complexa quanto revemos nela os espaços soltos e aparentemente irrelevantes que preenchem o nosso Ser. Muitos poderão pensar que falta a densidade que uma construção mais clássica poderia convocar, mas, em boa verdade, não há nada mais sério nem trágico do que a incerteza daquilo que estamos a construir. E Dans Paris herda de digníssimos nomes (Godard, Truffaut, Rivette, ...) a fragilidade sempre presente das suas narrativas, como se a complexidade do mundo dependesse, sobretudo, da disponibilidade de o olharmos.

Dans Paris é uma das experiências mais comoventes deste ano e, sem hesitações, um dos filmes mais urgentes de se descobrir. Por razões cinematográficas, afectivas, humanas, mas, sobretudo, por nos relembrar que ser espectador não é tanto uma opção, mas um compromisso que assumimos com a nossa intimidade, com a intimidade que está do outro lado da tela e com todos os novos espaços que se desconstroem à nossa volta. Dans Paris conta a história de dois irmãos reunidos pela tragédia pessoal do mais velho que chora de forma quase autodestrutiva o amor que perdeu. O seu irmão mais novo, Jonathan, assume a sua ligeireza amorosa com despreocupação, percorrendo Paris como se fosse um mapa de aventuras amorosas que vai correndo como alguém que desistiu de viver muito antes do seu irmão mais velho. Ambas as tragédias destes dois irmãos se cruzariam de forma diferente e, como sempre, a presença/ausência da figura feminina decide todos os dilemas dramáticos. Um filme tão urgente quanto o amor!

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