«Hero», de Zhang Yimou
Sem quaisquer hesitações: um dos filmes máximos de 2003. Sobretudo, um filme que regressa à origem esquecida da imagem. A saber: nos primórdios de uma existência cinematográfica, TUDO pode existir enraizado nas suas próprias variações visuais. «Hero» é um desses filmes. Regressa ao diálogo mudo das imagens para melhor redescobrir os seus segredos e as cargas dramáticas que as variações pictóricas lhes possam impor. A partir dessa regressão, consegue respirar todo o fulgor interior de um universo que parece pedir uma relação muito íntima com cada movimento, com cada tonalidade, com cada textura e alterações de luz. Sem querer relembrar aquele lugar comum que diz que uma imagem vale mais que mil palavras, não é de todo descabido pensar no peso que a palavra imagem tem no universo cinematográfico -- sobretudo se olharmos para o cinema como a manipulação das imagens e, por consequência, do tempo.
Muitos pensarão nas semelhanças com «O Tigre e o Dragão», mas parece-me que, de facto, tais semelhanças, a existirem, começam e acabam nos voos sobrenaturais dos personagens. «Hero» bebe muito mais de Kurosawa («Rashomon» pois claro) e até mesmo de Bergman. É um filme visual, no mais puro sentido da palavra; e é um épico interior genuinamente humano, porque é da raíz das suas imagens que nascem as convulsões dramáticas e a própria fatalidade dos seus corpos. Não é um filme bonito no mais reciclável sentido da palavra. É um filme que, acima de tudo, devolve todo o valor humano e dramático ao conceito menosprezado da estética. É daí que tudo o resto nasce.
Classificação: *****
Tiago Pimentel
Sem quaisquer hesitações: um dos filmes máximos de 2003. Sobretudo, um filme que regressa à origem esquecida da imagem. A saber: nos primórdios de uma existência cinematográfica, TUDO pode existir enraizado nas suas próprias variações visuais. «Hero» é um desses filmes. Regressa ao diálogo mudo das imagens para melhor redescobrir os seus segredos e as cargas dramáticas que as variações pictóricas lhes possam impor. A partir dessa regressão, consegue respirar todo o fulgor interior de um universo que parece pedir uma relação muito íntima com cada movimento, com cada tonalidade, com cada textura e alterações de luz. Sem querer relembrar aquele lugar comum que diz que uma imagem vale mais que mil palavras, não é de todo descabido pensar no peso que a palavra imagem tem no universo cinematográfico -- sobretudo se olharmos para o cinema como a manipulação das imagens e, por consequência, do tempo.
Muitos pensarão nas semelhanças com «O Tigre e o Dragão», mas parece-me que, de facto, tais semelhanças, a existirem, começam e acabam nos voos sobrenaturais dos personagens. «Hero» bebe muito mais de Kurosawa («Rashomon» pois claro) e até mesmo de Bergman. É um filme visual, no mais puro sentido da palavra; e é um épico interior genuinamente humano, porque é da raíz das suas imagens que nascem as convulsões dramáticas e a própria fatalidade dos seus corpos. Não é um filme bonito no mais reciclável sentido da palavra. É um filme que, acima de tudo, devolve todo o valor humano e dramático ao conceito menosprezado da estética. É daí que tudo o resto nasce.
Classificação: *****
Tiago Pimentel
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home