
Lembrei-me de escrever uma notinha sobre um dos filmes máximos deste ano, ainda em exibição nas nossas salas: «Ken Park», de Larry Clark. Apetece-me falar e até ser ligeiramente provocador, até porque quando aparece um filme com sexo explícito e sem vergonha nenhuma das suas imagens, surgem logo as vozes dos missionários do voyeurismo. Mas será que já ninguém consegue ver a diferença entre um seio mostrado em «Ken Park» ou num daqueles thrillers pseudo-eróticos de encher a madrugada? Onde está a diferença? Não estará seguramente na dimensão imediata e mais ou menos reciclável dos membros desnudados que a câmara filma. Está, sim, na dimensão espiritual dos seus corpos; na sensualidade incontrolável dos seus desejos; na ternura imensa com que Clark abraça aquela pequena irmandade de jovens perdidos pelos ermos labirínticos da vida. Já não tinha memória de um filme tão paternal, mas nunca de forma moralista (enfim, no sentido mais maniqueísta que a palavra possa sugerir). Antes, é uma película filmada do lado paterno - não o dos pais, mas antes na ausência dessa dimensão. Como se Clark pudesse ser o pai omnisciente de uma geração inteira. Perdidos na sua própria orfandade, os corpos geracionais unem-se e reencontram-se constantemente nas suas próprias interrogações sexuais. O sexo, afinal, é mesmo a busca de uma identidade. De quem somos. Ou, como diz o título em português: Quem És Tu?
Tiago Pimentel
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