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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

domingo, setembro 28, 2003

Razzle-Dazzle ou, como diriam os tradutores portugas, frases para confundir. Acima de tudo, frases onde apetece abandonar o sentido da (nossa) lógica e recebermos a dimensão poética e incompreensível da nossa existência. Enfim, o nosso humanismo passa sempre por compreendermos que nunca controlamos o conhecimento na sua totalidade. O dia começa e o Sol informa as nuvens que hoje está preguiçoso e não lhe apetece vestir-se. Irá permanecer nu o dia inteiro. Sem a protecção das nuvens, a sexualidade calorosa do Sol fica exposta às mentes conservadoras do mundo inteiro, recebendo o seu escaldante erotismo. É assim que, numa relação de profunda intimidade com a sensualidade perversa da Natureza (e sempre com a ideia presente de que um corpo tem sempre um lado sexual), as pessoas caminham pela rua com menos roupa, aceitando o atrevimento do Sol e a inquietação erótica dos corpos por si tocados. Contagiados pela sexualidade do calor, os corpos desnudam-se e procuram noutros corpos a sua própria alma. Procuram fora de si as respostas aos sinais dos seus próprios corpos.

Alimentados pela curiosidade implacável das suas condições humanas, esses impulsos levam-nos, por vezes, a procurarem corpos cujo brilho da pele é ainda demasiado inocente para que a sociedade lhe confira qualquer valor sexual ou erótico. Mesmo que o Sol os toque com reveladora impiedade, nada parece demover a sociedade do que parece evidente. Talvez porque muitas vezes se confunda sexualidade com uma atracção perversa e carnal no mais rudimentar e perverso sentido da palavra. E diga-se, em abono da verdade, que muitas vezes o corpo humano procura também esse sentido primário de sexualidade, esquecendo que a atracção entre dois corpos define-se pela distinção entre uma vontade e uma submissão. Mais ainda, entre a existência unilateral dessa dimensão erótica e a concessão mútua desse universo, baralhando a sociedade que favorece a perversidade humana e não acredita no amor. No «Corvo» alguém dizia a certa altura que a infância acaba quando a criança aprende o que é a morte. Talvez fosse mais adulto acreditarmos que a infância acaba quando a criança se apercebe que poderá estar nua (não estamos longe dos conceitos bíblicos, claro que não). Entretanto, a noite chega, os sobretudos vestem-se e os corpos escurecem. Muitos procuram na escuridão da noite uma forma de redescobrir o erotismo do Sol, escondendo a vergonha por baixo dos lençóis. Mas existe algo de erótico na forma como a noite nos esconde a saliva sexual da pele. Há algo de intenso nessa relação perversa com o escuro. Há e continuará a haver enquanto o ser humano acreditar que a sua sexualidade só existe quando está na cama a tocar outro corpo.

Chega de Razzle-Dazzle por hoje. Um dia destes instalo uma bolinha vermelha no canto superior direito desta página.

Tiago Pimentel

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