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Tiago Pimentel
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quinta-feira, outubro 16, 2003


He killed nine inocent people, including my baby. He made only one mistake. He should have killed ten.


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«Kill Bill» de Quentin Tarantino

O Narcisista

Existe uma frase de entrada em «Kill Bill» que me parece decisiva para perceber o espírito narcisista que contamina o primeiro volume deste filme: “O quarto filme de Quentin Tarantino.” De facto, existe uma estranha sensação de deja vu que percorre o filme inteiro; uma espécie de cinema de epiderme que foi buscar referências a diversas correntes cinéfilas – desde a habitual contextualização contemporânea do Western spaghetti (com amor pela dimensão operática da música de Morricone) até ao filme de artes marciais – misturando tudo num cocktail de cores e sons que é, de facto, um festim visual de encher o olho. Por outro lado, há uma desconcertante sensação de vazio no meio de todo aquele Carnaval de cores, criando um estranho efeito demonstrativo de memórias específicas a diferentes tipos de cinema; como se Tarantino resumisse numa sinopse cinematográfica, diferentes correntes cinéfilas por sinais mais ou menos elementares (das cores à música) que estamos habituados a reconhecer de imediato.

Claro que não faltará muito até algumas pessoas começarem a defender que se trata apenas da primeira parte de um filme e que, como tal, não pode ser correctamente criticado. Por um lado, não temos, de facto, culpa que a Miramax tenha decidido partir o filme em dois para maximizar o lucro (para todos os efeitos, é um filme de 110 minutos aproximadamente); por outro, as pessoas que acusaram os detractores de «Matrix Reloaded» de falta de legitimidade, uma vez que era apenas a primeira parte de um filme, foram as mesmas que não se inibiram de colar também a sua opinião entusiasta. Devo dizer que uma parte de mim gosta de reencontrar estas referências filtradas pelo cinema de Tarantino que é, de resto, um cineasta tecnicamente no pico da sua carreira. Outra parte de mim, mais significativa, sente falta da liberdade formal e apaixonante que Tarantino conseguiu mostrar em «Jackie Brown». «Kill Bill» é, nesse sentido, uma regressão na obra do realizador e uma frustração emocional absoluta. Uma espécie de exercício narcisista de fim de curso, para demonstrar como é possível desconstruir tudo que se aprendeu. E isto vindo de um cineasta que se gaba constantemente de nunca ter frequentado nenhum curso de cinema e de ter aprendido tudo num clube de vídeo. Mesmo as elipses narrativas que tanto encantaram em «Pulp Fiction» começam a parecer também, e apenas, mais uma (auto)referência. Num filme, todo ele, alimentado obsessivamente por sinais com uma marca temporal específica sem o deixarem alcançar uma identidade própria e um caminho. Nesse sentido, infelizmente, é o primeiro filme falhado de Tarantino.




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Tiago Pimentel

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