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Tiago Pimentel
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segunda-feira, outubro 06, 2003

O que esconde a imagem?

A propósito da edição dos Indiana Jones em DVD, lembrei-me de ir comparar as especificações de cada Região e, depois de consultar o DVDcompare, apercebi-me que o «Temple of Doom» se encontra cortado em 1:06 minutos na... R2! Claro que me assustei e fui investigar mas, para meu sossego, os cortes em R2 foram exclusivos da edição inglesa. Por isso cuidado com essa versão censurada.

Isto levanta um outro - e velho - problema: a questão da censura. Gosto sempre de pensar que existe um equilíbrio perdido entre os extremos dos diversos pensamentos, mas neste caso em particular, sou absolutamente radical nas minhas convicções. Sou mesmo totalmente contra qualquer tipo de censura. Porque a censura, além de ser uma violação directa de uma obra, é sempre uma incapacidade de lidar com os conteúdos específicos de uma imagem. De repente, a censura é a expressão máxima que homogeneíza diferentes imagens cujo único ponto de contacto é uma componente solta como um seio, um braço desfeito ou um palavrão. Como se a sua simples existência fosse o mais preocupante e decisivo elemento para transtornar o pensamento de uma criança. Para vos dar um exemplo, o filme «Pearl Harbor» (Michael Bay) levou um PG-13 nos EUA enquanto «Saving Private Ryan» (Steven Spielberg) levou um R. Claro que o filme de Spielberg tem muito mais sangue e é muito mais visceralmente aterrorizante; mas será que a glorificação simplista e heróica da guerra em «Pearl Harbor» não é mais perigosa para as mentes jovens espalhadas pelo mundo? Será que um filme como o de Spielberg não deveria ser mesmo um objecto escolar devidamente explicado pelos professores de História? Será que um tiro disparado com vulgar tranquilidade e despreocupação, por exemplo, pelo Joker no primeiro «Batman», mesmo não sendo tão sangrento, não é mais incisivo na mente de um jovem no início da adolescência do que as balas sangrentas e carnais de «Saving Private Ryan»? O que se esconde por trás da imagem? Em «Batman», a forma como Joker despacha o seu patrão, com um imenso gosto, não será mais violenta para uma mente ainda à procura de valores e um caminho, do que as balas do filme de Spielberg que, desde o início, mostra como a guerra pode ser algo tão desumano e aterrorizante. É esta incapacidade de olharmos para uma imagem que se torna tão aflitiva hoje em dia. Ignorar que uma imagem está sempre ligada a um contexto específico que a ultrapassa, a um acontecimento temático que a torna necessária, a um conjunto de especificidades que a distinguem de outras imagens semelhantes. Mais ainda: o pensamento conservador contemporâneo que acredita que as crianças são seres cândidos e imaculados que devem ser sobre-protegidos. Se nem os adultos conseguem olhar para uma imagem e perceber o que ali está, como podemos esperar que os mais jovens consigam?

Tiago Pimentel

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