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Tiago Pimentel
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sexta-feira, novembro 28, 2003

Confessionário - Onde Está o Natal?

Quando, toda a gente sabe: é dia 25 de Dezembro e tem uma vizinhança de sensivelmente 2 ou 3 semanas. Mas onde... onde está o Natal? Para o Confessionário deste mês fui buscar um tema que durante, pelo menos, um mês do ano é vivido com a intensidade das memórias e dos outros. Dos outros porque o Natal existe num espaço comunitário; é, aliás, a sua grande força: a união e a confraternização. Desde muito cedo que o Natal é um tempo e um espaço de absoluta catarse para a tristeza que habita muitos filmes. Estou a lembrar-me de um exemplo recente, Catch Me If You Can: o Natal andava sempre de mãos dadas com a narrativa e com as emoções. É, por isso, mais triste que Frank Abagnale (DiCaprio) regresse a casa no fim para reencontrar a sua mãe num outro ambiente familiar, numa família onde já não pertence... em pleno ambiente natalício. E não admira que seja tão triste; o Natal existe quase sempre numa lógica de reunião familiar.

É a época das tréguas, da paz familiar, da felicidade. E, por outro lado, recupera a tristeza do efémero, a melancolia que não abandona os cépticos, aqueles que não acreditam no «viveram felizes para sempre» que as fábulas populares colocariam no epílogo operático, imediatamente antes do «The End». Eu prefiro sempre não pensar no que vem a seguir ao «The End». Até porque a vida é feita de pequenos momentos, de pequenos fenómenos que justificam a suspensão efémera da nossa felicidade. Ou melhor, faria mais sentido falarmos no plural, isto é, em felicidades. Existimos em constante corrupção com a felicidade, porque o amor também passa por aí: apercebermo-nos da fragilidade de todas as coisas da vida. E a felicidade é sempre uma busca e nunca uma conquista; talvez seja uma vivência com a intensidade do desejo e da necessidade de pertencermos a um lugar. Aliás, talvez tudo se decida na nossa geografia humana. Andamos nesta vida à procura de lugares, tristes quando não os conquistamos e siderados quando nos apercebemos que já há muito tempo que lá estávamos, sem nunca nos termos apercebido. Ou seja, não depende do tempo mas sim do espaço, porque o espaço «intemporaliza» o tempo.

E esta linha do pensamento recupera a geografia indefinível do Natal. É um lugar. E é um lugar que existe onde? Dentro de nós, talvez seja a resposta mais óbvia. Mas não deixa de estar incompleta. Nestas coisas, acredito sempre nas diferentes formas de olhar para a mesma realidade. Completando um pouco mais a minha primeira sugestão, eu diria talvez que o Natal existe dentro do próximo. Parece a mesma coisa mas não é; aliás, olhar de forma diferente para esta problemática relembrou-me que eu não existo sem que alguém diga, de facto, que eu existo. E para eu chegar aos lugares onde me sinto bem, espero sempre que alguém lá esteja para mo relembrar ou confirmar. É por isso que o Natal não pertence a um tempo, mas sim a um lugar. A um lugar que nem sempre vivemos no seu tempo específico, nesse incólume mês em que os símbolos (precisamos de algo «material» para revivermos os nossos valores - não temos que nos envergonhar, nós próprios somos parte de uma matéria) das renas, da figura Crística, do Pai Natal e da neve nos ajudam a iluminar os lugares que procuramos. Olhamos para a neve e, para espanto nosso, não sentimos frio; sentimos o calor dos outros corpos que nos afagam no íntimo da nossa incerteza humana. Talvez nesse lugar a que chamamos Natal seja possível atingir a encantatória ilusão das grandes fábulas do cinema clássico e vivermos felizes para sempre.

Boas Festas antecipadas,

Tiago Pimentel

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