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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

sexta-feira, novembro 14, 2003

A crítica dos leitores

Tiago Costa escreveu-me a dar a sua perspectiva, algures entre o fascínio e alguma desilusão, do último filme de Tarantino. É com prazer que vos convido a lerem o texto:

Não digo que o muito aguardado novo filme do prodigioso Quentin Tarantino seja um passo em falso numa filmografia brilhante - constituída apenas por três (grandes) filmes - mas é verdade que o considero o seu trabalho menos conseguido em cinema (não vi o pequeno episódio da sua autoria em «Four Rooms»). Dito isto, «Kill Bill - Volume 1» parece-me uma fusão muito divertida de referências (e até algum copismo) e géneros cinematográficos, ao mesmo tempo que consegue construir uma história e personagens com alguma identidade própria mas sem a emoção desejável ou rasgos de génio que o elevem a outro patamar. As emoções advêm sempre mais das memórias cinéfilas que o filme de Tarantino evoca constantemente, do que da intensidade da história que se está a contar ou conflitos humanos - tenho sérias esperanças que o 2º volume lhes venha emprestar mais densidade. Entre os géneros citados ao longo do filme - e que demonstram o enorme amor de Tarantino pela 7ª arte - o Western é o que mais impacto tem: a sequência construída em assombrosa animação Anime é uma belíssima citação do cinema de Leone e a música que acompanha as imagens é de uma beleza imensa, é puro Morricone, no seu melhor (bem, na verdade não é - é Luis Bacalov - mas o efeito pretendido é o da evocação das bandas sonoras do popular compositor italiano). É o melhor capítulo do filme e seguramente o mais emocionante (por causa das memórias, lá está...). E depois, também ajuda a conhecer melhor a principal vilã deste primeiro volume - O-Ren Ishii (Lucy Liu) - num retrato violento e dramático do seu passado.

No que diz respeito aos diálogos, Tarantino não se demonstrou muito inspirado, ou pelo menos não teve grande espaço para os utilizar neste volume, que aposta mais num espectáculo de imagens e música (brilhante BSO). Por isso, é muito provável que os fãs acérrimos do realizador, que vão à espera de sair da sala de cinema com mais uma dúzia daquelas frases memoráveis tão típicas do seu universo cinematográfico, fiquem desapontados. Os diálogos são realmente bons mas não espantosos, sendo que ainda assim existe muito humor em vários momentos do filme, tal como em «Pulp Fiction». A propósito do humor...chega até a existir algum excesso de paródia em «Kill Bill - Volume 1», o que também contribui para que a maratona de vinganças a cargo da "The Bride" (interpretação poderosa de Uma Thurman - a actriz perfeita para a personagem) não seja levada muito a sério. Assim a componente emocional fica a perder...o que não invalida que, por exemplo, o confronto final entre as duas rivais até seja bastante intenso. Uma das únicas cenas que, decididamente, não me convenceu foi a do episódio do Buck, no hospital. Esta é uma auto-referência óbvia do Tarantino a um dos seus filmes (lembram-se de Zed e o seu companheiro, em «Pulp Fiction»?) e não só confirma que o realizador começa a sofrer de alguma arrogância cinematográfica, como se trata de uma cena perfeitamente previsível dentro do universo Tarantinesco. E pouco importa que o humor negro da sequência possua, de facto, alguma piada...(e já agora, não é o momento mais sangrento do filme, mas é certamente o mais violento)

A já popular sessão de pancadaria em «House of the Blue Leaves» é um deslumbramento de cores, música e acção genialmente filmado por Quentin Tarantino que, tecnicamente, nunca esteve tão bem como aqui. Não considero a sequência um clássico do cinema de acção (falta talvez mais criatividade nos diversos combates, especialmente na parte dos 88 loucos) mas, de facto, é um delírio de entretenimento e humor, presente sobretudo através do excesso de sangue que jorra dos corpos e das figuras caricaturiais dos diferentes lutadores. Vale a pena referir que o responsável pelo espantoso trabalho de fotografia é o veterano Robert Richardson, colaborador de Oliver Stone em vários filmes, como por exemplo, «Platoon» e «JFK». Richardson será o director de fotografia do novo filme de Martin Scorsese, «The Aviator» (a estrear em 2004).

«Kill Bill - Volume 1» é um delírio de entretenimento, isto apesar de todos os seus aspectos menos positivos. Eu esperava mais de Tarantino após 6 anos de espera, principalmente quando o seu último filme tinha sido «Jackie Brown», uma obra-prima absoluta que deixava a certeza de que Tarantino estaria a crescer enquanto realizador. O seu 4º filme não o confirmou e nesse sentido não correspondeu às expectativas criadas - Tarantino começa a revelar os seus limites, apesar de filmar melhor do que nunca. Anyway, já estou a salivar pelo 2º volume...

Classificação: ****1/2

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