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Tiago Pimentel
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domingo, novembro 30, 2003



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«Finding Nemo»

A nova pérola da associação Pixar/Disney é um pequeno prodígio. Em primeiro lugar, um prodígio de animação, cada vez mais apurada e impressionante no detalhe, nas expressões, na profundidade, nas cores, na suavidade da água, etc. Um prodígio do argumento, possivelmente o melhor e mais conseguido de todos os filmes da Pixar. O filme chega a limites de criatividade absoluta, não deixando que nenhuma personagem secundária se torne decorativa, desde os caranguejos «das ruas» (de Nova Iorque?) com uma forma muito especial de tratar os «invasores» do seu espaço pessoal, até às sublimes gaivotas (um achado!) com um sentimento de posse crónico, sem esquecer as pacíficas tartarugas que, na sua lentidão, deslocam-se a velocidades vertiginosas nas correntes marítimas. Ao contrário das inúmeras personagens secundárias com uma presença meramente simbólica ou de empréstimo de ideias pseudo-filosóficas de «A Viagem de Chihiro» (sem querer ofender ninguém) e das suas incertezas rítmicas, «Finding Nemo» é um filme com uma noção de ritmo das suas várias partes perfeitamente definida, com tempo para ser rápido e, ainda assim, impor momentos de pausa e flutuação.

A história toda a gente sabe, até porque o próprio trailer promocional fornece-nos essa base de entrada: o curioso e corajoso Nemo perde-se do pai no meio de um conflito entre os dois. As últimas palavras que Nemo dirige ao seu pai foram: odeio-te. Isto impõe um peso trágico tremendo à narrativa, implicando que tudo que vier a seguir seja condicionado por esse desabafo. Isto é: a necessidade que Nemo tem de regressar ao seu pai para lhe desmentir essa frase e a procura que o seu pai irá iniciar para ultrapassar os seus próprios medos e provar ao seu filho que é capaz de o amar, mesmo que esse amor implique aceitar o seu crescimento e a sua exposição ao exterior. Em boa verdade, «Finding Nemo» é tão comovente e genuíno nas suas emoções porque é uma projecção simbólica (e animada) de necessidades humanas. É uma fábula popular, infantil no seu encanto e adulta na sua complexidade humana, temática e narrativa. É um filme apaixonante e de uma riqueza absoluta nas suas vozes: Albert Brooks (o pai Marlin), Alexander Gould (Nemo), Barry Humphries (no papel de um tubarão chamado Bruce, decidido a negar os seus instintos e necessidades alimentares), Willem Dafoe (num comovente papel de um peixe do oceano, aprisionado num claustrofóbico aquário) e Ellen DeGeneres (num dos papéis mais divertidos e comoventes do filme: Dory, uma espécie de versão feminina e marítima de Leonard Shelby em «Memento»). Assim, e esperando que ninguém se ofenda, «Finding Nemo» é muito mais simbólico, pensador, humano, subtil e estimulante do que as filosofias escancaradas e marteladas de «A Viagem de Chihiro».


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Tiago Pimentel

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