<$BlogRSDUrl$>

Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
_____________________________

Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

segunda-feira, novembro 03, 2003



Site Oficial

MATRIX REVOLUTIONS

The Big Sleep

Sempre fui relativamente exterior a este universo dos manos Wachowski, com algum interesse pelo 1º e desinteresse absoluto pelo 2º. O primeiro filme sempre me pareceu um exercício interessante, algo desequilibrado, mas com um conceito de imagem arrojado e fundamental para redefinir o «cyberpunk» numa lógica mais massificada e até mística. «Matrix» era o «Star Wars» dos Wachowski, com as devidas distâncias. O problema é que parece que tudo tinha sido dito e mostrado no 1º filme; tudo que vem no 2º parece-me perfeitamente redundante e de um encarceramento académico profundo. Aliás, o 2º filme veio desfazer o que o 1º tinha conseguido impor: um novo conceito de imagem e tempo para se conseguir liberdade formal para contar uma história, para o melhor e para o pior. Enfim, se o 1º filme conseguiu isso até certa altura, o 2º acabou por ficar prisioneiro dessa mesma lógica visual, acabando por convertê-la numa mera atracção circense, mais cedo ou mais tarde ultrassada pelos avanços tecnológicos.

Na altura, parece-me que houve uma recepção bastante tolerante relativamente a «Matrix Reloaded», uma vez que se tratava da primeira metade de um filme. Como se fosse impossível ter uma opinião sobre o filme; ou, pior, se fosse uma absoluta desgraça e o terceiro fosse uma obra-prima, isso pudesse de alguma forma recuperá-lo e transformá-lo num filme melhor. Enfim, após «Matrix Revolutions» é impossível manter estas dúvidas e acaba por confirmar-se aquilo que sempre me pareceu evidente nesta trilogia: a componente humana foi sendo, gradualmente, escamoteada pelos impressionantes, mas inconsequentes, efeitos visuais. O final do filme é disso paradoxo máximo: a música apocalíptica e as imagens finais tentam invocar uma grandiosidade épica que o filme simplesmente não suporta. Em boa verdade, como é possível sentir alguma emoção por personagens que são apenas programas de computador? Esta trilogia tenta ensinar que o amor é a chave para nos distinguirmos das máquinas; é a partir do amor que geramos o conflito humano que possibilita a liberdade de escolha entre o ódio e o amor, a verdade e a mentira, o humano e a máquina. Mas um filme nunca é uma dissertação nem um postulado científico. Colocar palavras com um conteúdo supostamente filosófico em personagens de pacotilha que as pronunciam como se estivessem a ler um teleponto acaba por produzir um resultado final vazio, falso e mecânico. Os irmãos Wachowski conseguiram algo insólito, de facto: criaram o primeiro filme realizado por um computador.

O efeito positivo deste terceiro capítulo da saga é desmascarar definitivamente esta mística absurda que envolveu a trilogia inteira (apoiada, sobretudo, na sobriedade do primeiro filme). É neste filme que se percebe que a relação Neo-Trinity (supostamente o centro daquele universo, o fundamento base da doutrina teórica do filme) simplesmente não existe. O filme trata-os como se fossem programas de computador, abandonados em corpos sem líbido nem vertigem dramática. Os secundários do filme parecem variações menores dos secundários dos «X-Files» (mas a que distância...) versão «software» que discursam os seus diálogos como quem anuncia a mais decisiva verdade. Além das algaraviadas filosóficas (já habituais), este terceiro filme tem ainda mais de uma hora da mais gráfica, explosiva e sonolenta súmula de tiros, sangue e chamas alguma vez vista na trilogia inteira. Se, por um lado, o filme nunca consegue levar-se a sério e produzir uma lógica dramatúrgica sólida, por outro, essa guerra está capturada num formato de tal forma académico e prisioneiro do seu próprio fascínio pelas possibilidades dos efeitos visuais que chega a roçar o rídiculo e a alcançar momentos da mais agastada monotonia.

Um filme onde o final não justifica nada a existência de uma trilogia inteira e, ainda por cima, pede descaradamente um quarto filme; um filme onde nada de humano parece existir e muito pouco de entretenimento se consegue produzir; e, acima de tudo, um filme que usa os seus corpos apenas como mensageiros de ideologias de «fortune cookies» e filosofias de pacotilha sem nunca lhes dar uma verdadeira presença. Os seus incondicionais têm defendido que o objectivo do filme é mesmo mostrar a desumanização de todos aqueles corpos e demonstrar que não passam de programas de computador. Nesse caso, este será mesmo o filme ideal para ser apreciado, na sua totalidade, por máquinas ou computadores.



Class.:

Tiago Pimentel

0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?