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Tiago Pimentel
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domingo, janeiro 11, 2004

A Little Thing Called Oscar

É inevitável chegarmos a Janeiro sem pensarmos e repensarmos todas as obras do ano e os efeitos práticos que a cerimónia da Academia produzirá para a politização do cinema contemporâneo. E o passado tem-me ensinado que a relação das pessoas com os Oscars nem sempre é fácil porque, na maioria das vezes, é uma relação pensada num modelo exclusivamente clubista. Ou seja: ou ganha o filme que eu acho que deve ganhar ou então isto dos Oscars é tudo uma fantochada. Mantenho sempre uma relação de distância com este pensamento e gosto muito de ver os Oscars em três dimensões distintas: a do espectáculo puro como celebração encantatória da magia do cinema e de todo o seu passado; a sustentação da própria indústria, ou seja, acreditar que um Oscar é sempre um veículo para (re)lançar nomes ou títulos no mercado e assim renovar constantemente o tecido industrial; e, por último mas não menos importante, o condicionamento político que a mediatização megalómana desta cerimónia produz no pensamento sócio/cultural. Ou seja, é preciso percebermos que, provavelmente, «Chicago» nem era o filme de eleição dos membros da Academia, no ano passado. Mas o filme de Rob Marshall trazia consigo as acendalhas de «Moulin Rouge» que algumas mentes entusiastas elegeram como o regresso do musical. E num ano de luto para o mundo, «Chicago» parecia o filme ideal para arrumar com dois coelhos de uma só cajadada, isto é: consolidar o regresso do musical no cinema americano e repor alguma da alegria e «pure fun» das quais o cinema se serviu, ao longo dos anos, para enganar ou iludir a tristeza humana da infeliz realidade que ocupou o mundo (relembrar Capra, por exemplo).

Confesso que, no meu caso, não gosto de «Chicago» mas acabo por perceber a opção. Aliás, em boa verdade, o ano passado foi dos mais geniais e imprevisíveis em matéria de prémios e mensagens políticas. Foi o ano em que todos tinham uma incerteza quanto ao Oscar de melhor realizador, disputado na imprensa entre Scorsese e Marshall, e, no fim, a Academia decide atribuir o Oscar a um senhor que está proibido de entrar nos EUA sob pena de ser apreendido pelo FBI (Polanski, of course). Foi o ano em que «Chicago» ganhou o Oscar máximo por pressão intensa do big boss Weinstein, embora a mensagem tenha passado de forma invulgarmente cortante: «Chicago» ganha o Oscar máximo e alguns técnicos, mas os ditos artísticos ou importantes vão para «O Pianista» (actor, argumento e realização).

Este ano avizinham-se algumas alternativas. «O Regresso do Rei» começa a impor-se como o filme mais importante nestas primeiras entregas de prémios e o sucesso crítico é indesmentível. Por outro lado, «Cold Mountain» parecia ser a aposta mastodôntica (a la «Heaven's Gate») da Miramax para este ano, mas a ausência de Minghella dos nomeados para a DGA (Directors Guild of America) significa que dificilmente receberá sequer a nomeação para os Oscars. Ainda há «Mystic River», de Clint Eastwood que, a par do filme de Peter Jackson, parecem-me cada vez mais as apostas mais seguras para esta cerimónia. Mas conciliar estes dois filmes como potenciais vencedores implica algumas contradições importantes: primeiro, parece cada vez mais certo que Peter Jackson receberá o Oscar como compensação para a trilogia inteira. Mas, se tal vier a acontecer, não me parece também que depois «Mystic River» possa vir a ganhar sem o seu realizador ter sido premiado. Em segundo lugar, nunca na história da Academia um filme de aventuras ou fantasia foi premiado o que deixa «O Regresso do Rei» do lado negro das probabilidades estatísticas. Por outro lado, o negrume pessimista e intimista de «Mystic River» também não me parece coerente com a filosofia regular da Academia o que reabre novamente uma porta para «Cold Mountain». Aliás, duas se contarmos com o sucesso crítico avassalador de «Master and Commander». E «Monster»? Terá lugar de destaque ou será Charlize Theron a sua solitária representante?

E, com tudo isto, fica de fora o filme ideal (por todas as razões) para os americanos premiarem, por força da falta de promoção e da sua magra produção: «In America».

Tiago Pimentel

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