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Tiago Pimentel
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sábado, janeiro 31, 2004




Most men, they'll tell you a story straight true. It won't be complicated, but it won't be interesting either.

«Big Fish», Tim Burton

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O novo Feiticeiro de Oz?

É justo pensar neste título, mesmo sabendo o incomensurável peso que o «Feiticeiro de Oz» tem sobre a estrutura formal da fábula popular. «Big Fish» tem uma grande desvantagem em relação ao filme de Fleming: tem Ewan McGregor em vez de Judy Garland. E a opção de casting até pode ser compreensível. Tim Burton procurava um actor capaz de dar «glamour» e um ar «gostem de mim» à sua personagem principal, embora McGregor esgote a criatividade artística de Tim Burton e das suas personagens sobrenaturais na sua insuficiência dramática. Chega a ser desconcertante olhar para algumas das mais ricas criações humanas deste filme (estou a lembrar-me do gigante e de Helena Bonham Carter) completamente congeladas pela inércia emocional e pela presença superficial de Ewan McGregor. O actor confundiu errância com turismo e acaba por se passear pelo filme como um turista da sua própria história.

Mas o filme joga em dois campos: a história do jovem Ed Bloom (McGregor) e o conflito entre o velho Ed Bloom (Albert Finney) e o seu filho Will (Billy Crudup). Se a primeira história se perde, por vezes, em excessos e redundâncias românticas (originadas, sobretudo, pela falta de verdade de McGregor), já a segunda se transcende e sublima. A relação entre pai e filho e a procura da verdade foi das coisas mais belas que Burton alguma vez filmou. Aliás, faz sentido neste filme percebermos que a procura da verdade é radicalmente diferente da procura dos factos. E que perceber quem somos não passa sempre por compreendermos os factos que nos definem. Passa, sobretudo, pela verdade em que nos vemos projectados (ou em que nos gostaríamos de ver). E essa verdade passa pela fotografia barroca de Philippe Rousselot, pela genuína honestidade de Albert Finney, pela imaginação interminável e ilimitada de Tim Burton e pelo conceito belíssimo desta história de bruxas e gigantes. É impossível ficar indiferente ao final do filme assim como a toda a descoberta deste mundo. Talvez a imaginação ainda seja o lugar mais verdadeiro, onde todos nós regressamos, ocasionalmente, para lidarmos com a banalidade da verdade a que as certezas científicas e lógicas nos condenaram. Talvez seja esse, afinal, o lugar ideal para (nos) procurarmos.

E se uma parte de «Big Fish» está mais próxima de «O Feiticeiro de Oz», a outra parte mais autobiográfica tem a ver com os ritmos e a fragmentação de «Forrest Gump». E torna-se inevitável pensar que o Tom Hanks dessa altura era perfeito para o papel protagonista deste filme de Tim Burton. Em todo o caso, é uma das mais belas fábulas dos últimos anos e um dos mais comoventes fenómenos sobre a descoberta da identidade. Saber, no limite, que essa identidade não está na história que conhecemos ou nos factos que julgamos perceber e que tranquilamente dominamos ao abrigo da verdade, mas antes nas ilusões, nos sonhos e nos desejos que, afinal de contas, nos definem enquanto Seres humanos e nos distinguem enquanto indivíduos.


Tiago Pimentel

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