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Tiago Pimentel
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segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Lágrimas de Crocodilo

Depois do trágico fim que se acidentou sobre Fehér há uma semana atrás, juro a pés juntos que fiquei mesmo comovido com o luto do povo português. Como o prof. Marcelo Rebelo de Sousa explicou, e muito bem, é uma forma de sentir que nos é muito característica. Somos um povo naturalmente desequilibrado, amargamente insensível para umas coisas mas exageradamente sensibilizados por outras. É a nossa forma de ser, é a nossa cultura e devemo-nos orgulhar da forma como chorámos a morte de Fehér. É, aliás, bom relembrar que, em tempos de funesto cinismo, ainda conseguimos sentir.

É com profunda tristeza que observo, uma semana depois, a canibalização absoluta desse luto. Primeiro no jogo entre o Sporting e o FC Porto. E, notem, nem é preciso especular sobre a veracidade da afirmação (gravíssima, a confirmar-se) que Mourinho terá feito sobre o jogador Rui Jorge; basta a atmosfera anti-fairplay que se gerou durante e no fim do jogo para invalidar toda a união que se julgava consumada na semana anterior. E, para vilipendiar de vez a integridade da moral e da ética que habita o mundo do futebol português, aos 93 minutos de jogo (o mesmo minuto, sensivelmente, da queda de Fehér uma semana antes) dá-se início, no Estádio D. Afonso Henriques (no jogo Guimarães-Boavista), a um remake português das batalhas campais de «Braveheart». Como é possível acontecer algo desta magnitude a 4 meses do Europeu e uma semana depois da morte de um jogador, precisamente no mesmo estádio? Existirão razões que possam explicar este fenómeno de falta de civismo num país de primeiro mundo? E em Portugal? O leitor mais informado saberá certamente que num país de terceiro mundo, estas situações são de uma banalidade assustadora. E nós? A 4 meses de um acontecimento tão decisivo e determinante para testar a saúde das nossas infraestruturas a nível da segurança e do escoamento de massas humanas e empenhados nas mais esforçadas tentativas por manter os padrões de convergência gerais da UE, em que mundo nos queremos enquadrar?

Um ponto positivo: a suspensão por 30 dias do Estádio D. Afonso Henriques. Isto é bom, mostra que afinal também é possível tomar uma decisão célere no nosso país. E que razões se conseguiram apontar, afinal, para a alienação total de qualquer conceito de civismo ou de desportivismo? João Loureiro, do lado do Boavista, acusou Pimenta Machado, presidente do Guimarães, de criar constantemente certos ambientes (não estou a ser inconclusivo, foi mesmo só isto que o presidente do Boavista disse). Do lado do Guimarães, argumentou-se que, num jogo com 6 substituições, é estranho haver apenas 4 minutos de desconto e que isso revolta o mais pacífico dos adeptos...

Tiago Pimentel

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