<$BlogRSDUrl$>

Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
_____________________________

Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

quinta-feira, março 04, 2004



Paixões

Dia 11 de Março, na próxima quinta-feira, estreia nas salas portuguesas o fenómeno polémico e mediático do momento: A Paixão de Cristo, de Mel Gibson. Como grande parte dos fenómenos cinematográficos que se transformam em alvos de contradições ideológicas, acabam sempre por ser analisados por componentes secundárias e, na maioria das vezes, completamente irrelevantes para o filme enquanto peça artística. É o caso deste filme de Mel Gibson. Mas não se julgue que o realizador de Braveheart não terá aqui a sua quota parte de culpa no cartório, tanto mais que A Paixão de Cristo, antes de ser uma obra cinematográfica, é um genial golpe de marketing. Como transformar uma película falada em aramaico num dos mais lucrativos filmes do ano? Ninguém poderia prever que este filme de Mel Gibson pudesse, ao fim de 8 dias de exibição, somar 153 milhões de dólares. Como o conseguiu? Fácil e, sobretudo, muito inteligente. Mostrando o filme às pessoas certas, às personalidades que definem o pensamento católico do cidadão médio e que poderiam funcionar como missionários evangelistas da boa nova de Gibson. “Ide ver e falai sobre o meu filme” poderia ser uma boa alternativa a alguns dos apregoares de Cristo.

E se a religião é a maior fonte de todas as guerras, também pode ser o mais rico veículo para engordar o box office de um filme. Junte-se isto ao caldeirão de fanatismo religioso que se vive nos EUA e aos extremismos religiosos e ideológicos que contaminam o pensamento mundial e apercebemo-nos do impacto que um pequeno filme sobre a vida de um carpinteiro que morreu crucificado poderá ter nos dogmas íntimos de cada um. Aliás, não é preciso esgravatar muito nas diversas ideologias religiosas, basta verificar já a reacção da comunidade judaica que se revelou fervorosamente contra o filme uma vez que poderia despertar uma nova onda antisemita. Mas não é necessário especular muito sobre as diversas formas de receber este filme. Já temos dados: a crítica norte-americana. Se, por um lado, parece-me incontornável a importância religiosa que se tem dado ao fenómeno (diversas pessoas que se confessam convertidas a Cristo), também é verdade que a crítica profissional tem-se divido em duas posições muito gerais: ou se mostram absolutamente esmagados perante o poder visual, épico e religioso da experiência, ou se ressentem do protagonismo excessivo que a violência assume neste filme. Seja como for, começa a ser difícil centrar o pensamento geral dos americanos na questão essencial: o filme.

A Paixão de Cristo está mais próximo de se transformar na versão cinematográfica da Bíblia católica e ser lido como mais uma variante dos seus valores, do que numa íntima experiência cinéfila das últimas horas da vida de Cristo. Mas será que ainda ninguém percebeu que é possível um não-católico gostar mais deste filme que um católico fervoroso e vice-versa? Será que ainda ninguém percebeu que o mais importante num filme como este não é a confirmação da nossa fé, mas antes a descoberta de novos horizontes que julgávamos perdidos na inércia das nossas emoções? Não são assim os grandes filmes? Aguardemos por este.

Tiago Pimentel

0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?