
I've never been nice, but I'll try to be sweet.
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Assim como Charles Bronson tocava a harmónica em «Aconteceu no Oeste», David Carradine sopra na flauta em «Kill Bill Vol. 2», a segunda parte da saga sangrenta de Quentin Tarantino. Vi-o hoje de manhã e, enquanto apreciador modesto do primeiro filme, devo dizer que este, apesar de diferente, me deixa igualmente indiferente. Abandonou-se a acção, ganhou-se alguma confidência (mas também alguma redundância e muita conversa da treta), exageraram-se as influências (e o efeito de disk-jockey cinéfilo), abusaram-se dos estereótipos (o episódio de Pai Mei é berrante, tanto na composição do velho mestre barbudo como na colagem aos zooms dos filmes de Hong Kong dos 70's) e concluiu-se tudo num final previsível besuntado por discursos romântico/niilistas para sustentar a tentativa de homicídio da Noiva na igreja. O humor do Tarantino está mais insuportável do que nunca e consegue quase comprometer os momentos sérios do filme.
Gosto muito de «Cães Danados» e «Pulp Fiction» e sou fã incondicional daquele melodrama melancólico mas fulgorante chamado «Jackie Brown». Mas creio que, desde o início, a saga «Kill Bill» tem sido mais sobre Leone, Morricone, Sonny Chiba, etc. do que sobre a Noiva e Bill. Tecnicamente irrepreensível e um exercício de cinefilia apaixonada, «Kill Bill» parece-me desapaixonado pelo seu próprio universo trágico: uma mulher assassinada pelo pai do filho que ainda carregava na barriga. Sendo um filme que faz questão de sublinhar as suas citações (e de viver à sua custa) não é estranho que, depois, quando suceda um momento mais determinante ou melodramático tudo soe um pouco falso. Como se continuasse a ser, apenas e só, uma citação.
Tiago Pimentel
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