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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
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segunda-feira, abril 26, 2004

Night Blog - A IMAGEM

Se a noite pudesse casar com o dia, seria o casamento perfeito. A união da complementaridade perfeita. Onde um oferece a vivacidade da luz, o outro deita-se com a serenidade do escuro. Quero acreditar nessa complementaridade, até porque todos os corpos se deviam completar. Talvez porque, numa perspectiva bíblica, caminhemos todos pelo mundo sem uma costela. Ou talvez apenas porque fomos ensinados a procurá-la. E é isso que torna tão poética (e porque não romântica) a descida da noite sobre o dia. Como se da escuridão se abandonasse o pudor e procurássemos os sinais do erotismo cuidadosamente escondido da luz do dia. A noite desperta o sexo. Desperta como se de dia ele dormisse num corpo agitado pelo ritmo do trabalho, do cansaço, das pessoas, dos corpos. O dia aguarda a noite como uma boca seca que esgota a última gota de saliva para procurar um pouco de água. É o desejo perfeito: o de dois amantes que nunca antes se viram mas que se projectam um no outro. Como se a noite o cobrisse por inteiro por umas horas, o suficiente apenas para baralhar o sentido da verdade. Ou serão os sentidos? Afinal são 5, não são? Quantas verdades? As que se desejarem! É noite e as imagens são outras, ultrapassam-nos como corpos celestes que a luz do dia não soube iluminar. Ou talvez os nossos olhos não soubessem procurar. Que sentido faz, falarmos dos sentidos da verdade, se não compreendemos os nossos próprios sentidos? O que é uma imagem? Serei eu a mesma a imagem de dia e de noite? Qual das duas me favorece mais? Com qual das duas devo casar? Com nenhuma. Apenas o dia deve casar com a noite, pois apenas eles se entendem na sua apaixonada oposição. Apenas eles recriam o verdadeiro sentido do real. Assim mesmo, sem plural. Na pluralidade habitamos nós, humanos à procura de imagens, de corpos, de olhares, de sorrisos, de alguém que nos complete o plural e nos transforme em singular novamente. De alguém que nos ajude a encontrar apenas um sentido, uma verdade, uma imagem. Apenas o dia e a noite o conseguem. Porquê? Porque desconhecem que o outro existe. Porque nunca se hão-de encontrar. Porque não existem imagens, apenas olhares.

Tiago Pimentel

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