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The Dreamers, de Bernardo Bertolucci
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O cinema visto pelo cinema
Fulgorante! Não é todos os anos que aparece um objecto com tanto vapor passional pelos seus contextos, pelo seu tempo e pelo seu espaço. Dito de outro modo, «The Dreamers» é um filme passado durante a geração específica de Maio de 68, mas parece ocupar várias dimensões geracionais. Talvez porque o cinema, ou a imagem, possa servir de ponte geracional para outras formas de pensar e de sentir.
Com «The Dreamers», Bertolucci quis mostrar aos jovens de hoje um tempo em que o futuro ainda era algo de positivo. Talvez por causa dessa nostalgia em relação a um tempo em que ainda se acreditava na revolução dos ideais, este filme tenha sido tão atacado por saudosismo esquerdista ou por epítetos mais graves ainda. Em todo o caso, também me parece que «The Dreamers» se sente um pouco exterior a essa revolução; afinal de contas, ela acontece mas é sempre lá fora, nas ruas, vemo-la ocasionalmente pela janela, os barulhos, os sinais (provavelmente o final é o único desequilíbrio do filme). Este é um filme sobre cinema e sobre cinefilia. E porque cinefilia se decompõe logicamente por amor ao cinema, também os seus personagens se transfiguram nesse amor absoluto como se fossem partes de um único corpo.
E as imagens de outros cinemas habitam «The Dreamers» como memórias íntimas dos seus próprios personagens e, nesse sentido, como se fossem parte dos seus próprios corpos. É um cinema carnal, visceral, talvez dos mais carnais de que há memória. Porque o cinema e as imagens são como memórias, fragmentos do nosso corpo que os três personagens partilham como se nelas se reconhecessem e que carregam como citações das suas próprias existências. “És um de nós”, grita o casal francês. Nesta frase habita uma ingenuidade que tem tanto de infantil como de perverso. Porque, como crianças grandes em que o sexo ainda simboliza o maior dos enigmas, a nudez dos corpos é o único diálogo em que os três se vão reconhecendo. “De que filme é?” será outra maneira de perguntar “Quem sou eu?”. É nestas interrogações que nascem as diferenças e o trágico fatalismo da distinção dos corpos.
Tiago Pimentel
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