«Agente Triplo» de Eric Rohmer
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Eric Rohmer possibilita o regresso a uma dimensão absolutamente decisiva do conflito humano deste universo de espionagem. Uma guerra fria da palavra se assim o quiserem. Estamos em vésperas de explodir a 2ª Guerra Mundial, com Fiodor e sua esposa Arsinoé refugiados em Paris. Fiodor é um espião dos brancos anti-comunistas (precisamente o que se opunham aos ideais de Joseph Estaline) que costuma fazer, com frequência, viagens secretas para inquietação perturbante da sua mulher que já não sabe bem para quem trabalha o marido. Rohmer filma duas histórias em Agente Triplo: a primeira, mais secundária, que serve de separador narrativo com pontualidades documentais da época que Rohmer recupera; e a segunda, mais intimista e passional, o enigma constante da gramática humana que a personagem Fiodor representa. E, como já acontecia no último A Inglesa e o Duque (ou na quadrilogia Contes des quatre saisons ou, se puxarmos um pouco pela memória, em Ma Nuit Chez Maud, de 1969), o ponto mais forte que Rohmer sempre soube invocar está, precisamente, na irredutível verdade da palavra. Verdade não porque representa um fim em si mesma (e, por isso, linear), mas precisamente pelo contrário: porque nos oferece (a nós, espectadores) a deliciosa ambiguidade do ser humano. Porque a verdade, a existir, terá que ser sempre em forma de pergunta. Provavelmente só as perguntas são verdadeiras e para as quais não existe apenas uma resposta. Assim é a radical liberdade de Agente Triplo. E assim é que um veterano da Nouvelle Vague mostra que filmar com rebeldia e irreverência formal não é apenas filmar videoclips com sobre-cadência de imagens e planos.
Tiago Pimentel
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Eric Rohmer possibilita o regresso a uma dimensão absolutamente decisiva do conflito humano deste universo de espionagem. Uma guerra fria da palavra se assim o quiserem. Estamos em vésperas de explodir a 2ª Guerra Mundial, com Fiodor e sua esposa Arsinoé refugiados em Paris. Fiodor é um espião dos brancos anti-comunistas (precisamente o que se opunham aos ideais de Joseph Estaline) que costuma fazer, com frequência, viagens secretas para inquietação perturbante da sua mulher que já não sabe bem para quem trabalha o marido. Rohmer filma duas histórias em Agente Triplo: a primeira, mais secundária, que serve de separador narrativo com pontualidades documentais da época que Rohmer recupera; e a segunda, mais intimista e passional, o enigma constante da gramática humana que a personagem Fiodor representa. E, como já acontecia no último A Inglesa e o Duque (ou na quadrilogia Contes des quatre saisons ou, se puxarmos um pouco pela memória, em Ma Nuit Chez Maud, de 1969), o ponto mais forte que Rohmer sempre soube invocar está, precisamente, na irredutível verdade da palavra. Verdade não porque representa um fim em si mesma (e, por isso, linear), mas precisamente pelo contrário: porque nos oferece (a nós, espectadores) a deliciosa ambiguidade do ser humano. Porque a verdade, a existir, terá que ser sempre em forma de pergunta. Provavelmente só as perguntas são verdadeiras e para as quais não existe apenas uma resposta. Assim é a radical liberdade de Agente Triplo. E assim é que um veterano da Nouvelle Vague mostra que filmar com rebeldia e irreverência formal não é apenas filmar videoclips com sobre-cadência de imagens e planos.
Tiago Pimentel
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