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Tiago Pimentel
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sexta-feira, setembro 03, 2004

Paris é a mais bela cidade da Europa. Não porque tenha mais ou menos monumentos históricos ou as ruas mais arranjadas que outros corpos urbanos que habitam o velho continente. Mas, sobretudo, porque existe em Paris um sentido de urbanismo, ou de vida urbana, que absorve a componente cultural enquanto organismo da sua sensibilidade específica. Ou seja, não é apenas mais uma cidade a vender bilhetes para a Torre Eiffel ou para o interior do Arco do Triunfo. Não é apenas mais uma cidade a cumprir os requisitos turísticos enquanto guia informativo da sua História mais taxativa. Acima de tudo, é uma cidade onde essa dimensão cultural - o desejo de conhecer e de dar a conhecer - existe dentro da cidade como sangue nas suas artérias urbanas. Pertence-lhe essa vontade. A vontade de reconhecer todas as formas de arte e de procurar as suas especificidades em todas as imagens do quotidiano. Como se a Arte e a vida convivessem nas ruas sem ser necessário entrar num museu ou numa sala de cinema. É desse encanto que falo. Caminhar encostado ao Seine e descobrir que as barraquinhas montadas fragilmente ao longo do rio vendem, não rosas ou jornais desportivos, mas livros, quadros, dossiers que ilustram um pouco da sua cultura histórica, mas também do resto do mundo. É esse amor generalizado pela Arte, pela obsessão atenta ao enquadramento específico de cada imagem, que promove e desafia o olhar com que consumimos Paris, sem alienações. Na mítica cinemateca cruzam-se os fantasmas de outros tempos com as suas fotografias históricas baralhadas um pouco pelas paredes. Sentem-se os ecos das suas memórias nos cantos mais escondidos encaixotados pelas quatro paredes; resgatamos algumas das nossas memórias cinéfilas no brilho dos retratos que a fotografia monocromática não absorveu. Jean Seberg olhava-me como se quisesse gritar "New York Herald" mas sem precisar de falar. As ruas de Paris decompunham-se conforme as memórias que me assaltavam. E são precisamente essas memórias que a cidade ainda não esqueceu. São essas memórias que ainda definem a intemporalidade parisience. Sinto-me como Woody Allen a descrever a sua cidade em «Manhattan», com a insuficiência da palavra. Como se só com uma câmara se pudesse contar a sua história. Como qualquer cidade apaixonada pela Arte, tem sempre uma vontade incontrolável de comunicar. E Godard bem o sabe...

Tiago Pimentel

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