É complicado perceber as intenções de Polar Express. Porque se, por um lado, se entende que é um objecto que tenta aproximar-se do público mais infantil (e, neste sentido, redescobre a animação como fonte directa do fascínio das crianças), por outro, perverte essa pureza usando-a para recriar pessoas... Qual o uso da animação se for para tentar ser realista? Porque não usar actores verdadeiros para esse efeito? É um desconcertante efeito de artificialidade que percorre o filme e que me deixa algo indiferente a todo o folclore que o decora. Aliás, todo esse folclore natalício me parece algo decorativo, sem grande interesse pela dramaturgia das suas personagens. São todos autocolantes com uma anorética espessura dramática. É um filme cheio de equívocos (humanos, cinematográficos, narrativos) que se limita a passear símbolos do pensamento popular tradicional (sem faltarem os duendes de voz distorcida, o Pai Natal gordo e de roupão vermelho, as prendas, o trenó e o Pólo Norte como sistema industrial alternativo). Isto desilude-me muito, até porque gosto imenso das pessoas envolvidas neste projecto. Enfim, existe o sentido de encenação e espectáculo de Robert Zemeckis que nunca deixa o filme ser aborrecido (apesar de, muitas das vezes, serem apenas viagens de montanha russa). Nem se pode usar a expressão filme falhado porque creio que as intenções eram mesmo fazer um filme para crianças.
Tiago Pimentel
Tiago Pimentel
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