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Tiago Pimentel
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segunda-feira, dezembro 27, 2004

O Natal é um dos lugares mais cinematográficos que o Homem encontrou para reproduzir certas emoções e inspirações que estarão sempre directamente relacionadas com símbolos e tradições, dificilmente renováveis. E é importante, cada vez mais, sentirmos no Natal, a sua descodificação cinematográfica. Deslocarmo-nos a uma sala de cinema e sentir novas formas que o cinema descobriu para se reencontrar com o Natal, em vez de redescobrirmos, ano após ano, sempre os mesmos filmes de Natal na televisão. E este ano não tivemos muita sorte. Porque, se por um lado, temos um filme assumidamente de Natal como Polar Express, por outro, essa mesma obra não faz muito mais que reproduzir sinais e simbolismos que pertencem ao imaginário mais infantil (mas também mais imediato), recriando equívocos sucessivos e alienando o prazer da construção de um imaginário, de uma narrativa rica e fascinada pelo seu próprio universo. É um filme de Natal de um aflitivo anonimato. Como se estivéssemos a ver uma sucessão de postais de Natal, com a mesma formatação impessoal que um postal transmite. E é uma pena, porque o Natal é uma época especial em que o humano redescobre emoções que, na maioria dos casos, estão adormecidas ou secundarizadas durante o resto do ano. É uma altura em que precisamos desse confronto com a nossa dimensão menos egocêntrica, com a nossa disponibilidade para recebermos pensamentos, necessidades, emoções que nos são alheias. Aliás, não só para pensarmos no mundo fora do nosso ser, mas também dos mundos fora do nosso mundo. Confusos? Não será caso para tanto e prefiro exemplificar do que justificar com mais palavras abstractas. Tem a ver com a estreia (ainda que atrasada) do verdadeiro filme de Natal deste 2004: À Procura da Terra do Nunca. É o único filme que redescobre as verdadeiras subtilezas que contornam o lugar chamado imaginação, sem o vulgarizar. Sobretudo porque é um filme consciente. Ao contrário de Polar Express que é um filme que projecta a magia como um lugar arbitrário de formas e imagens retiradas de um postal ou de uma montra comercial. À Procura da Terra do Nunca é um filme que redescobre a imaginação não como forma niilista de cortar com o real, mas antes como extensão melodramática das suas formas mais carnais. Perceber, acima de tudo, que o imaginário é apenas mais uma forma de pensar e sentir. Mas é um "apenas" com toda a força do humano. Fico contente por passar mais um Natal em que o cinema foi capaz, mais uma vez, de mostrar que a arte é a forma mais pura de se concretizarem as necessidades emocionais do corpo.

Tiago Pimentel

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