Kingdom of Heaven
Class.:
Foi com muita incerteza que entrei na sala para ver este filme. Se, por um lado, tinha um dos piores actores do mundo (Orlando Bloom) a protagonizar uma narrativa dita épica, por outro tinha um factor, também de si incerto, na realização: o nome de Ridley Scott. Mas Scott tinha feito Gladiador há poucos anos, um grande épico que poderia, de alguma forma, caucionar este seu familiar directo. Mas, no lugar do olhar enraivecido de Russell Crowe, está o fantoche inanimado de Orlando Bloom, e da glória épica e dramática de Gladiador, restam apenas farrapos, pálidas ideias dramáticas, espalhadas pela narrativa em jeito de citações ou autocolantes. Ideias de ideias de ideias...
O filme perde, logo à partida, com a cruel montagem que o esquartejou – sabe-se que o filme tinha, originalmente, mais uma hora de duração. Perderam-se todos os conceitos de ritmo e tempo, cada sequência ao longo do filme dura uma média de 1 minuto, as personagens não têm tempo de respirar, de marcar uma presença e tudo se perde num insustentável fardo de inconsequência.
O luxuoso elenco de secundários passeia-se pelo filme como turistas de uma narrativa dramática inexistente, como se observássemos pequenos trailers consecutivos a anunciarem um grande épico histórico. Mas, depois de juntas as peças, fica a sensação de pertencerem todas a filmes diferentes, como um organismo sem anatomia narrativa. O argumento trata as personagens como se fossem habitantes de efémeros flashbacks em catadupa para perder, depois, todo o tempo que lhe resta a demonstrar as maravilhas do digital em batalhas tão vistosas quanto inconsequentes. E o pior é ficarmos, no fim, com a sensação que mais uma hora de filme não chegava para remendar nada. Os problemas são bem mais estruturais que isso e começam logo num argumento sem qualquer sentido de construção dramática e épica, estropiado por uma montagem e uma realização demonstrativas, sem ideias de duração cénica ou de tempo. E, a cereja no topo do bolo, um protagonista sem qualquer presença nem gravitas dramática. Orlando Bloom está tão invisível que dá ideia de, apesar de ser o protagonista, continuar tão secundário como nos seus filmes anteriores.
Um projecto tão anónimo que nem o seu rotundo e académico falhanço o torna interessante. Talvez Tróia seja mais irritante por ser um objecto tão escancaradamente teen e o equivalente cinematográfico de uma revista de mulheres, mas não deixa de ser curioso que o mais interessante dos épicos a estrear nos últimos tempos seja Alexander, o mais trucidado pela crítica de uma forma geral.
Tiago Pimentel
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