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Tiago Pimentel
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sexta-feira, outubro 21, 2005



O Castelo Andante, de Hayao Miyazaki


Class.:


É um evento, de facto, cada vez que um filme de animação do veterano Miyazaki estreia nas salas de cinema. Um evento, antes do mais, pelo estatuto que lhe é reconhecido, sobretudo, por colegas de profissão e admiradores da sua animação. Mas todo o encanto que possa habitar as suas ilustrações, rapidamente se esgota na arbitrariedade e redundância narrativas que as parecem dirigir. Posto de outra forma: dir-se-ia que não há uma estrutura que organize as imagens (magníficas) num fluxo de inter-relações entre as várias etapas da história. Em boa verdade, esse era um dos problemas máximos de A Viagem de Chihiro e volta a sê-lo, embora com outras agravantes, em O Castelo Andante.

Há, de facto, um lado «bigger than life» que os seus filmes nunca conseguem resgatar, cometendo o engano de transformar todos os personagens dos seus filmes em corpos semióticos que se mobilizam para uma aventura sempre espectacular, mas limitada aos seus próprios artifícios visuais. Antes de serem humanos, os personagens de O Castelo Andante são metáforas, símbolos esgotados na sua própria simbologia e submetidos aos delírios narrativos a que ela se permite. A magia (no seu sentido mais literal e restrito) acaba por se banalizar na sua imensa sobrepopulação e nela faz, igualmente, desaparecer os poucos personagens que podiam ainda existir.

Desde uma bruxa anafada usurpadora de corações (símbolo da velhice), até um homem-pássaro com complexos capilares (símbolo da beleza e da juventude), nada do filme existe para além da suas funcionalidades esquemáticas. Exige-se a Miyazaki, um universo mais concreto, não nas suas ideias, mas nos corpos em que as trata; que os corpos deixem de ser uma colecção de símbolos e passem a habitar nos seus próprios lugares, com todo o cuidado narrativo que essa ambivalência implica. No limite, os personagens de O Castelo Andante são citações e não concretizações do amor supremo que Miyazaki há tantos anos procura, consumidos por todo um universo de magia limitado ao seu próprio academismo.

Tiago Pimentel

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