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Tiago Pimentel
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segunda-feira, novembro 28, 2005




Harry Potter e o Cálice de Fogo

Classificação:

Um caso paradigmático de um universo que se esgotou no primeiro filme e que tem vindo, a partir daí, a reciclar a fórmula sem um sentido de auto-paródia que resgate esta saga de uma seriedade dramática que, em boa verdade, nunca vai além da encenação prosaica e do videojogo de plataformas. Chegámos a um modelo esquemático que acaba por demonstrar as suas próprias insuficiências, seja na ilustração gráfica e inconsequente dos acontecimentos (como um jogo de quidditch ou um labirinto, filmados sem ideias de «mise-en-scéne» e uma montagem serviçal), como no encadeamento primitivo dos acontecimentos, como se vivessemos um videojogo, fazendo a história avançar saltando de nível para nível. Em boa verdade, assistir a «Harry Potter e o Cálice de Fogo», deixa a sensação de estarmos a assistir a alguém (outro espectador, por exemplo) a «jogar» o filme, deixando-nos a nós o direito irreversível de observarmos o seu jogo.

Se, por um lado, o imaginário de Harry Potter surge nos bastidores de outras tragédias de ficção e fantasia, nomeadamente das grandes sinfonias de sci-fi como Star Wars, por outro, representa uma variação menoríssima das suas coordenadas dramáticas, esgotando o modelo de fantasia na mera exposição dos seus efeitos especiais (desde a ilustração de um feitiço até sequências monótonas de perseguição de dragões). No limite, estaremos a assistir à deterioração do que entendemos como cinema fantástico: se, por um lado, o olhar actual precisa de uma vassoura a voar para reconhecer esse imaginário, por outro, estaremos a perder as subtilezas a que o «género» se permite (não será por demais relembrar que um fotograma de Videodrome, de Cronenberg, ou - mais recentemente - de Donnie Darko, de Richard Kelly, incorporam muito mais «fantástico» do que qualquer filme da saga Harry Potter, bem como redescobrem o cinema fantástico como mais uma forma de desafiar a nossa disponibilidade mental e afectiva).

Neste 4º filme, nada de novo a assinalar, muitos efeitos especiais, muitos desafios novos, muitos adereços secundários e o mesmo fatalismo de «fim de mundo» a espreitar em cada esquina narrativa, sem um corpo à altura de o representar (por momentos, Ralph Fiennes sacode o universo Potter com um vilão recriado a partir de uma galeria incontornável de monstros – Nosferatu, provavelmente).

Tiago Pimentel

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