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Tiago Pimentel
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quinta-feira, dezembro 15, 2005




No Direction Home, de Martin Scorsese

Classificação:

Importa chamar a atenção para um dos fenómenos nucleares do ano cinematográfico: um documentário de Martin Scorsese, sobre os primeiros anos da carreira de Bob Dylan, com estreia directa no mercado de DVD. Sem hesitações: um dos objectos documentais mais insólitos e brilhantes dentro do género, não só pela riqueza informativa e documental que recupera (muitas das imagens são mesmo inéditas), mas também (e sobretudo) por convocar Dylan como uma convulsão de imagens que transcendem largamente o conceito tradicional do documentário, e o colocam como paradigma humano da sua própria arte. Dito de outro modo: Dylan, antes de ser um ícone, foi uma pessoa, vamos conhecê-lo nas suas infinitas convulsões.

Podemos falar em documentário de ficção? Sem dúvida! Mas não por ser um documento que inventa factos, nada disso; ficção, antes do mais, porque nos mostra Dylan como algo mais que um ícone cristalizado pelo tempo e pelos lugares-comuns. Nele reconhecemos também uma paisagem específica da história política e cultural da América e a sua fascinante desconstrução (desde o movimento de igualdade de Martin Luther King, até às convulsões musicais promovidas pelo debate ideológico da música folk e da música pop). Dylan é, de alguma forma, apanhado desprevenido na errância desse diálogo, no qual, desde logo, faz questão de habitar; seria como habitar no paradoxo, fazendo a primeira parte dos seus concertos com música folk (munido, apenas, da sua guitarra acústica em prole de um som mais puro que combatesse o som maquiavélico das guitarras eléctricas), e as segundas partes com uma banda completa e um som eléctrico que lhe valia incansáveis apupos e gritos que o denunciavam como traidor.

Scorsese viaja pelas imagens como se nelas se redescobrisse uma verdade imutável dos seres e do mundo. A saber: num mundo (seja ele dos anos 60 ou 00) onde parece apenas interessar integrar as imagens (sejam elas de telejornais ou de novelas) numa realidade compreendida pelos maiores simplismos de pensamento e pelos estereótipos da moda, Scorsese integra Dylan como uma miragem humana e artística exterior a qualquer rótulo que lhe queiramos colocar. Ele é, no limite, o paradoxo em que todos julgamos ser impossível habitar. E ninguém filma heróis assombrados pela incerteza da sua missão como Scorsese.

Tiago Pimentel

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