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Tiago Pimentel
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sábado, abril 15, 2006




«O Novo Mundo», de Terrence Malick

Classificação:

Um mundo sem pessoas

Uma primeira impressão negativa e até desconcertada - mas exterior ao filme: a forma incompreensível como a Lusomundo tem gerido a carreira deste objecto, adiando sucessivamente a sua estreia nas salas portuguesas. A data aponta agora para 4 de Maio, embora seja incerta a sua confirmação.

Sobre o filme, as primeiras impressões são de amarga desilusão, tanto mais quanto me lembro do anterior de Malick – sublime «A Barreira Invisível» - onde a composição das personagens partia das equações dos seus próprios pensamentos. Onde, n’«A Barreira Invisível» existia confissão de consciências, em «O Novo Mundo» existem monólogos descritivos e fora de tom. A importação do modelo formal e narrativo de «A Barreira Invisível» acaba por ser quimicamente aplicado ao dispositivo dramático de «O Novo Mundo», onde as suas regras e especificidades não foram devidamente pensadas e elaboradas. Não desmentimos a sua viabilidade, mas sim a sua generalização abstracta numa espécie de modelo narrativo que, no limite, possa encaixar em qualquer história. É bom relembrar que o fundamental em «A Barreira Invisível» não era o formalismo da voz off, mas sim o que ela (nos) dizia. Em «O Novo Mundo», as palavras deixam de interessar (tornam-se até redundantes e demonstrativas, explicitando o que um par de olhos e uma mente sóbria poderiam descodificar sozinhos) para se tornarem adereços decorativos de um modelo que ostenta a sua frágil pomposidade como moeda de troca artística.

Entretanto, os seus personagens são abandonados num vácuo de redundância narrativa, estagnados nas suas próprias retóricas, perdidos num pós-modernismo anónimo e exterior às suas formas. De facto, a contemplação retórica do olhar de Malick parece-me tanto mais evidente quanto avançamos na narrativa: o que parecia uma história de amor tocante entre um capitão britânico e uma nativa do mundo novo, rapidamente se fragmenta e transforma os seus actores em eremitas de um deserto de ideias, disfarçados por monólogos em off adaptados de «A Barreira Invisível» e filmados quase sempre em tom deslocado, como se os actores não pertencessem às suas paisagens (o caso de Christian Bale é por demais evidente).

Em todo caso, sobretudo na primeira hora de filme, existem alguns belíssimos momentos de cinema que celebram a descoberta do amor entre duas personagens culturalmente tão distantes (estou a recordar-me, por exemplo, da cena em que a Pocahontas salva o Capitão John Smith de ser executado pela sua tribo). No entanto, a falta de ideias e engenho não serve devidamente as ambições épicas e artísticas de «O Novo Mundo», abandonando-o, progressivamente, na inconsequência da sua retórica e nas encenações pomposas da sua verdade.

Tiago Pimentel

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