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Tiago Pimentel
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quinta-feira, junho 01, 2006



Lançamento em sala de Final Cut de «Blade Runner»

Finalmente! É o que apetece dizer, após ler as notícias (benditas!) sobre o lançamento oficial para 2007 de uma versão final de «Blade Runner», montada por Ridley Scott e que representará a visão definitiva do cineasta relativamente à sua obra prima de culto. O filme será lançado em sala em 2007 para comemorar o seu 25º aniversário e, posteriormente, será editado em dvd com direito a todas as versões disponíveis do filme. A sabedoria popular costuma pregar que quem espera sempre alcança e, de facto, vários anos passados sobre o lançamento da edição miserável e vergonhosa do dvd do filme (sem extras, com som stereo e disponível única e esclusivamente na versão Director’s cut), a obra prima de Ridley Scott terá, finalmente, o tratamento merecido.

O cinema faz-se, de facto, de imagens. Parece uma redundância ou um simplismo, mas de facto não é. O universo de «Blade Runner» começa por ser construído, precisamente, na sua imagem; na introdução aérea e catastrófica sobre uma cidade de Los Angeles apodrecida num futuro cada vez menos distante (2019). Mas estabelecer uma data de enquadramento neste filme é, no limite, irrelevante; a sua existência é quase sempre sonambular e as suas imagens parecem sonhadas, fazendo da sua ficção um sonho existencialista que poderia habitar o imaginário de qualquer geração. E, ao contrário de outras obras menores de sci-fi existencialista, «Blade Runner» não tem qualquer verbosidade filosófica; as suas reflexões situam-se (claro!) nas imagens. Não no que se diz, mas no que se mostra. Não no que as personagens dissertam, mas no que fazem.

Importa então pensarmos com as imagens! Pensarmos no que vemos! Em boa verdade, se fizéssemos uma lista de filmes impossíveis de reduzir a uma sinopse, «Blade Runner» estaria, seguramente, nos lugares cimeiros. A sua riquíssima e inesgotável fonte de arte e vida não se reduz a meia-dúzia de linhas que enquadram a sua história. A personagem de Harrison Ford – o destemido Deckard – é um detective encarregue de caçar os Replicants que se revoltaram e se encontram agora na Terra em busca do seu criador; mas, Deckard é também a metáfora da solidão humana, ensinado a adormecer as suas emoções para melhor se aproximar e caçar os Replicants, e paradigma intemporal do homem que deixou de saber lidar com o amor. O romance de Deckard com Rachel é, seguramente, um dos maiores paradoxos românticos da história do cinema: não só pelos papéis que ambos terão de desempenhar, mas também na emulação de uma verdade romântica que se crê perdida naquele universo escuro e apodrecido. No outro lado da equação existencial de «Blade Runner», estão os Replicants, seres clonados e fabricados por grandes empresas com o objectivo de trabalharem nas novas colónias fora do planeta Terra. Um pequeno grupo revolta-se e dirige-se para a Terra, procurando respostas para as mesmas perguntas que nós colocamos ao nosso pensamento. E através da sua criação, o Homem pode observar a sua própria caminhada nos passos da tecnologia que criou.

«Blade Runner» lembra-nos essa velha e absolutamente fundamental questão: se, por um lado, o Homem caminha sempre no sentido de desenvolver novas formas de tecnologia, por outro, nunca pode deixar de as questionar. E o filme de Ridley Scott é isso mesmo: o questionamento... das máquinas, da tecnologia... de nós. O questionamento do cinema e das imagens como formas de pensar (e como formas de pensamento). O questionamento do Homem e os limites da sua Humanidade. O questionamento do próprio espectador e da sua disponibilidade para olhar e pensar. É um dos maiores desafios da História do cinema, mas é também uma das obras máximas de sempre. A ver e rever, numa sala de estar, numa sala de aula, o lugar e o tempo não interessam...




Um olhar aéreo sobre o sonho (pesadelo?) em que a Los Angeles de Blade Runner se tornou, por oposição ao olhar pelas memórias sonhadas de Roy Batty.



A Tyrell Corporation, fotografada por Jordan Cronenweth



Mais um plano onírico da estrutura industrial de L.A.



O olhar triste e quase humano de Rachel



O romance e o ofício

Tiago Pimentel

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