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Tiago Pimentel
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segunda-feira, julho 10, 2006



Agora que o entusiasmo com o campeonato do mundo serenou (infelizmente, cedo demais para nós), creio que é a altura de tecer um ou dois comentários que me parecem fundamentais. E, creio, apesar da competição propriamente dita ter encerrado, parece-me que os ecos de uma final marcada pelo comportamento de Zidane irão fazer correr muita tinta na imprensa internacional, durante os próximos dias.

O Futebol

Parece-me uma evidência cada vez mais objectiva e assustadora a falta de espectáculo nos grandes palcos do futebol mundial. A FIFA já revelou o seu descontentamento com a escassez de golos neste mundial e pretende conferenciar e, eventualmente, alterar algumas regras no jogo para aumentar o número de golos. Pessoalmente, sempre achei que a FIFA aborda a questão dos golos da forma errada. Naturalmente, percebe-se as preocupações relativas à escassez de golos – a indiferença dos americanos face a este jogo é uma tradução directa desse minimalismo estratégico que define o futebol em contraste ao espectáculo frenético e sobreclimático de todos os outros desportos.

Em boa verdade, o futebol é, provavelmente, o desporto com menor média a nível de resultados objectivos por jogo. E por aqui se revê a preocupação da FIFA, abordagem que me parece, na sua génese, equivocada. Não me parece que o centro da questão seja a quantidade de golos marcados; no limite, posso relembrar-me que já vi jogos de futebol absolutamente espectaculares terminados sem golo algum e outros muito aborrecidos (porque mal jogados) com chuvas de golos. A questão, em última análise, é anterior a tudo isso. Tem a ver com um conceito que tem evoluído muito nas últimas décadas de futebol: cultura táctica, sobretudo defensiva. É por aqui que a FIFA terá de olhar e actuar se quiser resgatar os jogos da monotonia. E neste mundial foram muitos; nem mesmo a final se safou (na final de 94, se se lembrarem, a monotonia foi semelhante e a Itália era também uma das selecções protagonistas). Não me entendam mal. Eu, como qualquer espectador de futebol, admiro a sapiência táctica e paciência estratégica da selecção italiana, mas não consigo deixar de pensar que estão milhares de pessoas num estádio e outros tantos milhões espalhados pelo mundo a seguir um jogo de futebol como se se tratasse de um jogo de xadrez (admirável, mas cada jogo no seu espaço). E a ironia do futebol moderno é bem cruel e Scolari enunciou-a de forma exemplar e objectiva numa das suas conferências de imprensa, ao dizer que as equipas que jogavam futebol bonito já estavam em casa. E, de facto, fazendo as contas: a Argentina ficou pelos quartos de final; o Gana não passou dos oitavos; a Espanha também não chegou longe... O melhor jogo do mundial, curiosamente, foi jogado quase a feijões: precisamente o jogo de apuramento do terceiro e quarto lugar, entre a Alemanha e Portugal – jogo também irreal no seu resultado que, caso fosse a doer, dificilmente teria os mesmos números. Creio que a Portugal falta um avançado com talento suficiente para dar solução prática a um meio campo do mais criativo que há no mundo. Aí sim, penso que teremos um colectivo suficientemente forte e impermeável a factores exógenos para ganhar uma competição deste nível.

O Fair Play

Creio que a FIFA terá de rever as suas coerências e, sobretudo, a sua imagem pública. Não é correcto nem coerente o representante máximo da FIFA afirmar, a seguir ao jogo Portugal / Holanda, que o árbitro fez um trabalho lamentável e, dias depois, dar o dito por não dito e passar a batata quente para os jogadores. Não é coerente negar o prémio de melhor jogador jovem a Cristiano Ronaldo com base no argumento do fair play, invocando o número exagerado de simulações do jogador português, e premiar Zidane com a Bola de Ouro, um dia depois de despachar um colega de profissão à cabeçada e comprometer as hipóteses da sua selecção na final do campeonato do mundo (é bom não esquecer que Zidane, além de peça fundamental no meio campo francês, é um exímio marcador de grandes penalidades... e muita falta fez à França no desempate final). Mas nada disto é novidade para quem já acompanha as recorrentes “coerências” do organismo máximo que regula o futebol internacional ao longo da História: estou a lembrar-me, concretamente, de um episódio com a votação do melhor jogador de sempre na Internet, onde Maradona saiu como claro vencedor. A FIFA, alegando que a votação teria sido maioritariamente derivada de participação infantil, descredibilizou-a e impôs um vencedor eleito por si: Pelé. Ou a FIFA dizia a verdade, ou então preferia não ter um drogado delinquente no primeiro lugar do ranking. O cartão amarelo que Blatter primeiro endereçou ao árbitro Ivanov e que depois endossou aos jogadores, deveria ser exibido à própria FIFA. Não só um cartão amarelo, mas talvez até dois ou três... dependendo do árbitro.

Tiago Pimentel

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