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Tiago Pimentel
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terça-feira, setembro 05, 2006



Bubble, de Steven Soderbergh

Classificação:

Será possível um dos grandes filmes de 2006 não estrear sequer numa única sala de cinema e ser remetido directamente ao mercado dos dvds? Parece que sim; é pelo menos, o caso do último filme de Steven Soderbergh. Bubble surge num conceito totalmente revolucionário (e, também por isso, incompreendido e falhado) de aglutinar os mercados de cinema e dvd no mesmo contexto temporal. Por outras palavras: era o objectivo de Soderbergh, estrear o filme em cinema e em dvd ao mesmo tempo, reduzindo assim os custos com a pirataria. Mas a verdade é que poucos apoios teve e os responsáveis das salas, na sua grande maioria, acabaram por se recusar a exibir um filme que, em boa verdade, estava à disposição numa loja de dvds.

De qualquer forma, Bubble foi então lançado no nosso mercado directamente em dvd e está à espera urgentemente de ser descoberto. Há algo de genuíno e autêntico neste filme que vai para além do facto de ter sido filmado com actores amadores; tem a ver com a recriação de uma comunidade do interior, das suas imagens mais fugazes bem como dos sinais mais inquietantes da sua intimidade. Soderbergh filma em HD (alta definição) e, de facto, isso transparece na clarividência e nitidez de cada imagem, no detalhe infinito de cada corpo e na composição dramática do espaço. Em boa verdade, o espaço de Bubble, apesar de definido até ao último detalhe, não se torna (por isso) menos enigmático e complexo; de facto, um dos grandes desafios deste filme é ensinar-nos a olhar para aquilo que (nos) parece óbvio e que, por desconcertante paradoxo, parece redefinir, a cada imagem, os seus próprios imaginários e estereótipos. Isto é, cada personagem de Bubble parece, de uma vez só, reunir todas as condições para pertencer aos quadros do americano-médio do interior, mas também o direito às suas intimidades mais específicas e exteriores à sua imagem.

Toda e qualquer imagem de Bubble aparece-nos mediante um contexto, numa economia narrativa e cinemática absolutamente estarrecedora: seja no fluxo interior aos diálogos, ou na presença invisível dos corpos nos cenários aparentemente redundantes das ruas e das pessoas (nas mãos de um cineasta banal seriam, porventura, separadores de cena, mas Soderbergh filma tudo como se, de facto, o espaço fosse um organismo dramático com as suas próprias respirações). Urge-se a descoberta dos curtos mas certíssimos 70 minutos deste filme, não só por se tratar (como diz no título) da nova experiência de Soderbergh (e poucas vezes a palavra experiência reuniu tantos sentidos), mas também porque é um drama laminar, a espaços comovente, sobre o desespero que é sentirmo-nos rejeitados pelo mundo.

Tiago Pimentel

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