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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

domingo, março 04, 2007



Uma noite memorável por diversas razões, mas, antes do mais, pela reinvenção do conceito de espectáculo da cerimónia, mais equilibrada e distribuida na sua duração (e afinal não era preciso cortar nas montagens como em anos anteriores, quem diria...). Claro que Ellen DeGeneres não integra o one man show incomparável de Billy Crystal ou a acidez intrépida de Steve Martin (a meu ver, os dois melhores anfitriões dos Oscars), mas algo nasceu com ela neste novo formato da cerimónia – uma espécie de intimidade (enfim, tanto quanto o formato televisivo nos permite) com o público, sustentando sempre pequenas interacções e números de humor, reconstruindo o conceito de palco, expandido-o além das suas fronteiras físicas e relembrando, no fim de contas, que o cinema não vive apenas dos inesquecíveis clássicos bem presentes nas magníficas montagens, mas também nas pessoas que se sentam na plateia: os actores, os cineastas, os directores de fotografia, montagem, também eles mitos do passado, incontornáveis do presente e promessas do futuro.

Um primeiro grande momento com a interpretação musical do trio Will Ferrell, Jack Black e John C. Reilly sobre a tragédia do humorista que nunca é levado a sério nos Oscars (provavelmente o melhor momento de entretenimento e espectáculo da cerimónia). Uma música instintivamente hilariante, ao mesmo tempo que satiriza a forma como a Academia por vezes favorece filmes menores em função das suas temáticas. Inesquecível também os diversos momentos de montagem (felizmente regressaram este ano), desde o vídeo do cinema europeu, passando pela homenagem a Ennio Morricone (esquecendo o lamentável momento Celine Dion), sem esquecer o imprescindível momento de homenagem às figuras do cinema que faleceram em 2006 – sempre um dos momentos mais dilacerantes das cerimónias de Oscars. E os pequenos detalhes de intimidade que se geraram, como a forma carinhosa e atenciosa como Clint Eastwood olhava para Morricone enquanto o ouvia falar para depois traduzir ao mundo as suas palavras. E a intensidade na voz de Forest Whitaker a agradecer o Oscar de Melhor Actor.

E, claro, o grande momento da noite: o nome de Martin Scorsese finalmente foi lido num envelope dos Oscars. E não podiam ter escolhido melhores vozes para lerem o seu nome do que os seus colegas geracionais “movie brats”: Spielberg, Lucas e Coppola. O discurso de agradecimento foi mais lacónico do que se esperava, mas manteve uma comovente humildade que começou logo pela forma peremptória como Scorsese decidiu lidar com a ovação de pé que recebeu no auditório. Contas feitas, ficou mais uma cerimónia bem distribuida, sem nenhum filme a arrecadar os Oscars todos, com um grau de imprevisibilidade bastante aceitável e uma gestão de prémios e de tempos que ajudou em tudo a melhorar a dinâmica do espectáculo. A palavra que melhor me ocorre é elegância; apercebi-me que este ano a cerimónia voltou a ser elegante. E não foi preciso cortar nas montagens ou entregar prémios na plateia.

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