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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

domingo, outubro 07, 2007

Falsa opção

Há uns dias atrás, o episódio de Santana Lopes a ser interrompido numa entrevista pela chegada de José Mourinho a Portugal, colocou novamente uma velha questão deontológica na mente do espectador. Mais do que deontológica, eu diria mesmo ética. Ou seja: as televisões (muito mais do que isso: os serviços noticiosos) estão a servir o espectador ou a tratá-lo como parte de uma entidade global chamada "audiências"? Quem vos escreve nada tem de ingénuo e conhece bem as regras tácitas do funcionamento televisivo, concretamente da gestão dos tempos e prioridades noticiosas. Em boa verdade, a problemática nunca esteve na compreensão dessa gestão, mas sim na percepção distorcida que as televisões têm de hierarquias noticiosas. De facto, já há muito tempo que os próprios serviços noticiosos se agregaram à lógica sensacionalista que rege todos os produtos televisivos. O caso de Santana Lopes foi apenas mais um incidente que ganhou visibilidade pela reacção do lesado. E eu uso a palavra apenas com grande desencanto, acreditem.

Mas não foi isso que decidiu o texto que escrevo aqui hoje. Não se trata tanto de uma reflexão minha, mas mais um protesto revoltado. Hoje à tarde, a TVI transmitiu o filme Hook de Steve Spielberg com o habitual pan&scan que se encarregou de arruinar todo o arranjo cinematográfico do autor. Até aqui nada de novo (e digo isto com o mesmo desencanto de há pouco). A causa da minha revolta apareceu perto do fim do filme, quando alguém responsável pela gestão do canal (possivelmente apercebeu-se que já não havia tempo para apresentar um pouco do telejornal antes do jogo de futebol União de Leiria - Benfica) decidiu cortar os últimos 5 minutos de filme.

Uma decisão impensável e um desrespeito completo por quem decide dispender do seu tempo em frente a uma televisão, concretamente na TVI. O que está em causa não é o tempo que se corta, até porque neste tempo não estou a contar os créditos finais, parte do filme que já se tornou aceitável perder (o mesmo desencanto). Isto é, a decisão não é mais aceitável por se tratarem apenas de 5 minutos de filme, mas sim por se pensar que ninguém valoriza o suficiente esse tempo que nos é negado, depois de nos venderem tudo o que vem antes, incluindo as toneladas de publicidade que se vai pontuando. Um desrespeito pelo espectador e pelos próprios autores do filme.

E os mais ingénuos que se desenganem, a TVI não cortou o filme para mostrar uma notícia incontornável (à semelhança do que aconteceu com Santana Lopes). O corte foi uma mera decisão tomada com a ligeireza que os tempos actuais permitem. Neste momento falo com mais do que desencanto. Falo com receio. Com receio que se caminhe para um tempo em que todo o espaço televisivo deixe de funcionar como um diálogo entre a televisão e o espectador e passe a ser um monólogo arbitrário de editores que reconhecem no público apenas uma possibilidade estatística de aumentar o seu sharing. Se esta passou a ser a sua única função, então incompetência é um eufemismo que já não se adequa aos tempos da televisão moderna.

1 Comments:

Blogger Daniel Pereira said...

Creio ser um costume na TVI (e partilho o teu desencanto, quando digo isto). Na pele apenas senti aquando de uma exibição de "Ronin" em que iam cortando pedaços do filme, também para um Telejornal começar às 20h. O que me surpreendeu no teu relato foi o facto de terem sido os últimos 5 minutos. Eu sei que qualquer fotograma do filme faz parte do filme por igual, mas os últimos 5 minutos...bom...lido muito mal com esse facto. O que me leva a partilhar também a tua preocupação pela "normalidade" com que tais situações se vão sucedendo. Pior: não se vislumbra sequer que a situação não piore.

3:43 da manhã  

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