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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

sábado, junho 26, 2004

Portugal VS Inglaterra

Assim vai a imprensa inglesa... Quem viu o jogo Portugal-Inglaterra terá percebido, sem grandes dificuldades, que Portugal foi superior e merecia ter resolvido o jogo dentro do tempo regulamentar. A Inglaterra, depois de ter conseguido um golo numa jogada fortuita, fechou-se na defesa com 10 homens deixando Owen na frente à espera que ele ganhasse alguma bola ocasional bombeada pela defesa inglesa. A Inglaterra optou por uma filosofia de jogo que tem sido claramente castigada durante este Europeu. Se fizermos as contas, tirando apenas a Grécia, todas as equipas que passaram dos grupos foram equipas que jogam futebol de ataque. Itália, Alemanha e afins foram para casa mais cedo, levando consigo um futebol cada vez menos actual e descontextualizado, sem prazer de jogar e equivocado na sua forma de buscar uma vitória. Ou seja, acredita que a vitória passa por uma defesa cerrada e sorte num lance de ataque. Claro que a Itália quando jogou contra a Bulgária, já nem se lembrava como se atacava, tal a institucionalização daquela filosofia trituradora de criatividade e talento. Seja como for, a Inglaterra conseguiu levar o jogo para as grandes penalidades, mesmo depois de Scolari ter feito um «jogo de banco» absolutamente brilhante (repare-se como nunca perdemos o meio campo, mesmo depois de ter tirado o trinco). O resto é história, e as grandes penalidades trouxeram a justiça que faltava ao marcador final.

Mas realmente triste foi ver a reacção da imprensa inglesa e de alguns membros da selecção inglesa ao jogo. A maioria da imprensa inglesa (e lembro-me do «Daily Mirror» por exemplo) tinha ROBBED escrito em letras gordas. Referia-se a imprensa inglesa ao lance de golo anulado à Inglaterra, em cima dos 90 minutos. Um golo que até nos campos mais arruaceiros da América do Sul seria anulado, já que as regras estão de tal forma institucionalizadas no senso comum que seria automático aceitar a anulação. Claro que compreendo o ponto de vista dos jogadores ingleses na altura. Podiam ter morto o jogo ali e seguido em frente. Mas foi falta e o golo nunca podia ser validado. O que não consigo tolerar é que a imprensa inglesa tenha feito um jogo sujo de quem tem mau-perder e aproveitado esse lance para desculpabilizar o anti-jogo permanente da sua selecção. David Beckham, por seu lado, prefere acreditar que o mau estado do terreno no local da marca de penalties provocou o seu falhanço. Mas ele deve ter arranjado o terreno depois de rematar, porque, de facto, a seguir quase todos acertaram. Eriksson também usa a mesma desculpa e, nem por um segundo, ninguém diz o óbvio: Portugal foi superior e merecia passar. E é triste quando jogadores do nível de Beckham ou personalidades notáveis como Eriksson não conseguem reconhecer a sua própria inferioridade. Até porque, há uma semana atrás, a imprensa espanhola batia aos pontos, em «fair play», a imprensa inglesa de ontem. Lembro-me, por exemplo, que a «Marca» dizia claramente que Portugal esteve sempre mais próximo de marcar o segundo golo do que a Espanha de empatar. Talvez a imprensa inglesa seja muito criativa a meter hambúrgueres na boca dos jogadores da selecção portuguesa, mas estou em crer que este hambúrguer de anteontem lhes tenha entrado pelo lugar errado. E quando assim é, são mesmo muito difíceis de digerir...

Tiago Pimentel

terça-feira, junho 22, 2004

«Agente Triplo» de Eric Rohmer

Class.:

Eric Rohmer possibilita o regresso a uma dimensão absolutamente decisiva do conflito humano deste universo de espionagem. Uma guerra fria da palavra se assim o quiserem. Estamos em vésperas de explodir a 2ª Guerra Mundial, com Fiodor e sua esposa Arsinoé refugiados em Paris. Fiodor é um espião dos brancos anti-comunistas (precisamente o que se opunham aos ideais de Joseph Estaline) que costuma fazer, com frequência, viagens secretas para inquietação perturbante da sua mulher que já não sabe bem para quem trabalha o marido. Rohmer filma duas histórias em Agente Triplo: a primeira, mais secundária, que serve de separador narrativo com pontualidades documentais da época que Rohmer recupera; e a segunda, mais intimista e passional, o enigma constante da gramática humana que a personagem Fiodor representa. E, como já acontecia no último A Inglesa e o Duque (ou na quadrilogia Contes des quatre saisons ou, se puxarmos um pouco pela memória, em Ma Nuit Chez Maud, de 1969), o ponto mais forte que Rohmer sempre soube invocar está, precisamente, na irredutível verdade da palavra. Verdade não porque representa um fim em si mesma (e, por isso, linear), mas precisamente pelo contrário: porque nos oferece (a nós, espectadores) a deliciosa ambiguidade do ser humano. Porque a verdade, a existir, terá que ser sempre em forma de pergunta. Provavelmente só as perguntas são verdadeiras e para as quais não existe apenas uma resposta. Assim é a radical liberdade de Agente Triplo. E assim é que um veterano da Nouvelle Vague mostra que filmar com rebeldia e irreverência formal não é apenas filmar videoclips com sobre-cadência de imagens e planos.

Tiago Pimentel

terça-feira, junho 15, 2004

Política e Cinema



O documentário de Mike Wilson, «Michael Moore Hates America», também já tem estreia marcada para 31 de Agosto de 2004. Trata-se de um documentário feito para combater o de Michael Moore («Fahrenheit 9/11») que Wilson acredita ser, como já o era «Bowling for Columbine», um comboio manipulador de mentiras, montagens enganosas, etc. E isto tudo tem como pano de fundo as eleições presidenciais americanas. Ou seja, será engraçado repensar as fronteiras do debate político actual. Seja como for, servirá de justo contrapeso à artilharia do sr. Moore... que até agora, e como já repararam pelo cartaz do filme, ainda não aceitou ser entrevistado para o filme do sr. Wilson. Nem sequer lhe apresenta uma desculpa, simplesmente não responde. Mike Wilson até já colocou um pedido no site, mas nada. Enfim, quando o feitiço se vira contra o feiticeiro, o lado mais democrata vem ao de cima. Ou talvez não...
Já agora, deixo-vos também o cartaz oficial de distribuição do filme de Michael Moore, onde, que me desculpem os incondicionais, palavras me faltam para descrever a falta de classe, sobriedade e integridade deste senhor:

Cartaz Oficial de «Fahrenheit 9/11»

Tiago Pimentel

quinta-feira, junho 10, 2004

Academia de Blogs Cinéfilos

Site: http://www.abcine.tk

Foi hoje inaugurado um novo espaço de congregação de blogs directamente relacionados com a cinefilia, do qual faço parte integrante. O espaço foi muito bem criado e explorado pelos seus fundadores e espero que venha a crescer com o tempo e a tornar-se mais um ícone de referência deste universo blogosférico. Como primeira sugestão, a Academia pediu aos seus membros para elegerem os melhores filmes de sempre. Uma vez que apenas aparece a lista final, aqui fica a minha lista pessoal dos 10 melhores de sempre. Esta lista não tem carácter definitivo e muito menos académico (se querem listas académicas é favor consultar a de qualquer crítico ou instituição de referência). Aqui deixo apenas 10 escolhas que me ocorreram, dentro do estado de espírito que vivia e respirava. Apenas o primeiro filme se mantém, seja em que dia for.

1º «E.T. - O Extraterrestre», Steven Spielberg
2º «Blade Runner«, Ridley Scott
3º «Limelight», Charles Chaplin
4º «2001, Odisseia no Espaço», Stanley Kubrick
5º «Jules et Jim», François Truffaut
6º «Vertigo», Alfred Hitchcock
7º «Dead Ringers», David Cronenberg
8º «Rio Bravo», Howard Hawks
9º «Vivre Sa Vie», Jean-Luc Godard
10º «Esplendor na Relva», Elia Kazan

Tiago Pimentel

domingo, junho 06, 2004

A crítica dos leitores

Tiago Teixeira (http://moviesuniverse.blog-city.com) enviou-me a sua crítica de «O Despertar da Mente», dando conta da sua admiração pela criatividade de Charlie Kaufman, mas também das limitações que encontrou em Michel Gondry.

Tiago Pimentel

O Despertar da Mente

Realização: Michel Gondry; Intérpretes: Jim Carrey, Kate Winslet, Tom Wilkinson, Mark Ruffalo, Kirsten Dunst; Título Original: Eternal Sunshine of the Spotless Mind; Nacionalidade: EUA, 2004.

Joel Barish (Carrey) é um homem tímido e inibido cuja vida não tem um pingo de interesse; Clementine Kruczynski (Winslet) é uma mulher extrovertida e impulsiva que tem como lema o carpe diem. Os dois conhecem-se e apesar da clara discrepância de feitios a paixão nasce entre eles; tudo corre bem até ao dia em que se dá ruptura e é então que Clementine, num acesso de raiva e descontrolo emocional, decide apagar da sua memória Joel recorrendo à ajuda do doutor Howard Mierzwiak (Wilkinson) da empresa Lacuna. Quando toma conhecimento deste facto, um destroçado Joel resolve em jeito de “vingança” fazer o mesmo que Clementine, na esperança de arranjar solução para o problema. No entanto Joel arrepende-se a meio do processo wipe out ao aperceber-se de que os únicos e verdadeiros instantes de felicidade foram passados ao lado da sua cara-metade, iniciando assim uma luta non stop contra o tempo e as suas recordações. É esta a história sintetizada da segunda longa-metragem do francês Michel Gondry – famoso pelo seu trabalho nos videoclips de Björk e também por Human Nature (2001) – e do guião redigido pelo norte-americano Charlie Kaufman. É escusado fazer a apresentação deste último pois Kaufman é com grande probabilidade o argumentista mais talentoso e brilhante a trabalhar actualmente em terras do tio Sam; se Kaufman tinha atingido o patamar da genialidade quando escreveu os argumentos dos filmes Being John Malkovich (1999) e Adaptation (2002), ambos realizados por Spike Jonze, no filme Eternal Sunshine of the Spotless Mind excedesse e arrisca ao entrar no complexo e misterioso universo da mente humana. A originalidade e bizarria da história é indubitavelmente a mais valia de todo o filme, mas também será justo dizer que nem sempre Gondry consegue utilizar do melhor modo a mesma no decorrer do filme tornando-o desequilibrado. No cast do filme um nome sobressai mais do que todos os outros: Jim Carrey – conhecido do grande público pelas suas divertidas interpretações nos filmes Ace Ventura: Pet Detective , The Mask e Dumb & Dumber , todos com origem em 1994, o canadiano optou nos finais da década de 90 por tentar a sua sorte noutro género cinematográfico, o drama, saindo vitorioso : The Truman Show (1998) de Peter Weir e Man on the Moon (1999) de Milos Forman confirmaram Carrey não só como um actor cómico dotado de uma invulgar maleabilidade corporal mas igualmente como um bom actor dramático. No resto do elenco Kate Winslet entrega-se apaixonadamente, de corpo e alma à sua personagem, enquanto que os seus colegas Mark Ruffalo, Tom Wilsinson, Kirsten Dunst e Elijah Wood têm uma presença diminuta servindo apenas de “decoração”. Em termos técnicos o filme revela-se bastante razoável, sem manifestações de grandiloquência ou ambição desregrada. Umas vezes mágico, outras vezes estranho, Eternal Sunshine of the Spotless Mind pontua nos diálogos entre Joel e Clementine (as interrogações que existem acerca da função que a memória assume no desenrolar da nossa vida e a ligação que estabelecemos com o mundo exterior, a possibilidade de podermos repetir uma experiência e vivê-la de forma diferente e o relacionamento amoroso entre duas pessoas com personalidades completamente antagónicas são a chave de grande parte do sucesso que o filme alcançou ) mas perde a estabilidade interna em resultado da realização insegura de Michel Gondry. Em conclusão, Eternal Sunshine of the Spotless Mind é um filme acima da média com uma realização irregular, um argumento a abarrotar de ideias criativas e um duo de intérpretes em estado de graça.


Para testemunharmos os impressionantes e sempre surpreendentes argumentos de Charlie Kaufman.

O Melhor: A contenção dramática de Jim Carrey, a naturalidade de Kate Winslet e a excelência de Charlie Kaufman.

O Pior: Nem sempre o filme nos seduz.


Classificação: **** ; 7/10.

Tiago Teixeira

sábado, junho 05, 2004

Existe uma tradição no mundo da música. Bom, é mais que uma tradição, é uma espécie de poesia confessional. A música transforma-se numa paisagem serena, onde dois corpos se podem ouvir a conversar, a comunicar e, no limite, a confessarem emoções e pensamentos que nunca conseguiram reproduzir numa conversa normal. Conversas entre pai e filho são as mais habituais, normalmente quando um dos dois já desapareceu, geralmente por falecimento. Uma das mais históricas e, nesse sentido, mais popular foi Tears in Heaven, de Eric Clapton. Mas guardei para este post, a letra de uma das minhas conversas preferidas de filho para pai. Mais que uma conversa, é uma confissão de pensamentos, de emoções e, em última instância, de uma forma de estar na vida, em família. Relembrarmos que as memórias que guardamos do que fomos, são o reflexo mais determinante de quem somos. E os traços que nos envelhecem o rosto são desenhados pelas imagens, memórias e corpos que, com a ajuda do tempo, evitam que fiquemos iguais até ao fim dos dias. São os traços dessas memórias especiais que ainda hoje podemos encontrar num espelho. E é nesse mesmo espelho que reencontramos as memórias e os nomes que já perdemos

Father, Son

Father, son
Locked as one
In this empty room
Spine against spine
Yours against mine
Till the warmth comes through

Remember the breakwaters down by the waves
I first found my courage
Knowing daddy could save
I could hold back the tide
With my dad by my side

Dogs, plows and bows
We move through each pose
Struggling in our seperate ways
Mantras and hymns
Unfolding limbs
Looking for release through the pain

And the yogi's eyes are open
Looking up above
He too is dreaming of his daddy's love
With his dad by his side
Got his dad by his side

Can you recall
How you took me to school
We couldn't talk much at all
It's been so many years
And now these tears
Guess I'm still a child

Out on the moors
We take a pause
See how far we have come
You're moving quite slow
How far can we go
Father and son

With my dad by my side
With my dad by my side
Got my dad by my side
With me

- Peter Gabriel


Tiago Pimentel

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