Star Wars: Episode 3 – Revenge of the Sith Class.:
Sem dúvida, um dos filmes mais aguardados do ano já que é, de uma vez só, o regresso da mais emblemática saga espacial da História e, também, o capítulo conclusivo desta prequela de Lucas. E, sem quaisquer hesitações, é possível afirmar que se trata, não só do mais emocionante episódio desta nova trilogia, como é mesmo o melhor
Guerra das Estrelas desde
O Império Contra-ataca.
O filme está contagiado, como já acontecia com
O Império Contra-ataca, por um negrume envolvente, embora, ao contrário do que acontecia no capítulo intermédio da trilogia original, este negrume não tenha tanto de místico, mas sobretudo de aterrorizante, de medonho, de visceral e arrepiante. É, seguramente, o primeiro Guerra das Estrelas a aproximar-se do formato de terror, ou não estivesse a figura do Imperador Palpatine tão próxima da filiação tenebrosa recriada por Gary Oldman no corpo do
Drácula de Bram Stoker. Lucas ultrapassou a necessidade de fabricar novos fãs e assumiu o compromisso de transcender as expectativas dos incondicionais. Aliás, sempre me pareceu um equívoco tentar a aproximação a novos fãs convertendo o universo
Star Wars num espectáculo infantil e circense (ainda que bastante competente) de
A Ameaça Fantasma. No passado, a trilogia nunca precisou de personagens voláteis como Jar-Jar Binks ou de efeitos especiais de ponta a roubar espaço aos actores para reunir a maior legião de fãs de sempre numa space-opera.
Este capítulo final é uma obra prima épica que desce aos infernos para ferver as emoções do espectador. Hayden Christensen nunca esteve tão bem na sua revolta e progressiva transfiguração no tenebroso Darth Vader, Ian McDiarmid impõe-se como o equivalente malévolo de Vader nesta fase final da trilogia, numa composição assustadora e arrepiante, digna dos mais célebres vilões de antologia. Pela primeira vez na nova trilogia, sente-se algo a “sujar” a limpidez que o digital vinha impondo e impedindo que emoções de outros tempos renascessem novamente. Talvez a nostalgia e a impossibilidade de reviver esses tempos fossem, como é habitual acontecer, os grandes responsáveis pela paixão que ainda sentimos pela trilogia velhinha e, de certa forma, o nosso olho se sinta distante do cosmos galático e digital que Lucas criou na nova saga. Mas este terceiro capítulo vem provar o contrário. É possível resgatar a mística sem alienar as potencialidades das novas tecnologias.
Das profundezas da mente de Lucas (o tal local muito, muito distante, finalmente revisitado pelo cineasta), nasce este capítulo aterrorizante que, sem retirar mérito ao magnífico
Ataque dos Clones, se demarca de forma decisiva dos dois episódios anteriores, assumindo-se, de uma vez só, como o mais intimista e universal capítulo da nova trilogia. Está tudo na dosagem certa, as piscadelas aos fãs suficientes mas não monopolizadoras (como a cena de Anakin a observar o confronto de Mace Windu e o Imperador Palpatine com ressonâncias da fase final de
O Regresso de Jedi); os momentos de comédia acertam quase sempre e são pontuações breves de comédia física ou preciosidades de montagem sonora absolutamente fascinantes; as sequências de acção são muito mais envolventes e viscerais, transcendendo o simples esquematismo coreográfico de um vídeo-jogo (relembrar os dois últimos capítulos de
Matrix) e encenando batalhas que traduzem, de facto, o diálogo trágico que se institui em todos os corpos da narrativa.
Pela primeira vez, é impossível resistir ao peso dramático que a tragédia de Anakin Skywalker impõe, criando a ponte temática, narrativa e cinematográfica perfeita para o nascimento de uma das mais impressionantes óperas trágicas jamais vividas no espaço, numa galáxia tão distante que julgávamos que Lucas nunca mais a iria reencontrar.
Tiago Pimentel