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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

domingo, dezembro 28, 2003





A Herança do Rock


Enquanto existir uma banda como os U2, o Rock nunca morrerá. Pode parecer uma ditadura de gostos e pensamentos, mas a verdade é que toda a génese e espírito do Rock contemporâneo passa pelos néons sibilantes e electrizantes da guitarra do Edge, pela singularidade e ilimitada capacidade vocal de Bono e, enfim, por todo o «feeling» que a música deles respira. É puro Rock, mas é também um universo musical que se define em cada álbum que a banda produz com todas as suas especificidades musicais e artísticas. Após 5 meses de uma digressão inesquecível para esta banda irlandesa, os U2 culminam com um concerto (agora editado em DVD) no seu País-Natal com cerca de 160.000 pessoas a assistirem. A noite cobre o Slane Castle e eis que se ouvem os primeiros acordes de Elevation. A banda sobe ao palco com a voracidade coral de 160.000 gargantas às quais Bono responde com um firme berro melódico a saudar os seus fãs. Sem grandes dúvidas, este será um concerto para ficar na História. Desde a melhor versão que ouvi de Where The Streets Have no Name, até ao inesquecível momento de entrada com o ribombar Rock e os «cheers» dos seguidores da religião promovida pelo embaixador da Paz e ícone cultural e figura incontornável dos últimos 25 anos, sem esquecer que todas as músicas (sem excepção) batem aos pontos todas as versões de estúdio. É O concerto. É um espectáculo memorável de luzes, canções, vozes, amor, paz (inacreditável como 160.000 pessoas conseguem saltar e gritar sem se atropelarem umas para cimas das outras como noutros concertos) e um documentário interessantíssimo sobre o «making of» de Unforgettable Fire gravado também numa das divisões do Slane Castle. Para quem já se tinha esquecido: U2 é uma das mais importantes e geniais bandas de sempre, e Bono é um ícone cultural a ver e rever nos livros mais importantes que nos ensinam o valor do nosso passado.


Class.:

quinta-feira, dezembro 25, 2003

Costuma dizer-se que os maiores poetas do Natal foram aqueles que o cantaram. Enfim, a música sempre teve um papel fundamental em reacender as memórias específicas de determinada época e transportar em cada melodia uma sensação diferente que o Natal poderá produzir. Ficam aqui as letras de algumas das mais imortais e nucleares «christmas carols» e deixemos a poesia falar por nós:

Happy Xmas (War Is Over)

(a primeira canção de Natal escrita como protesto à Guerra do Vietname, imortalizada por John Lennon a desejar Feliz Natal a toda a Humanidade)


(Happy Xmas Kyoko
Happy Xmas Julian)

So this is Xmas
And what have you done
Another year over
And a new one just begun
And so this is Xmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young

A very Merry Xmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is Xmas
For weak and for strong
For rich and the poor ones
The world is so wrong
And so happy Xmas
For black and for white
For yellow and red ones
Let's stop all the fight

A very Merry Xmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is Xmas
And what have we done
Another year over
A new one just begun
And so happy Xmas
We hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young

A very Merry Xmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear
War is over, if you want it
War is over now

Happy Xmas



Have Yourself A Merry Little Christmas

(cantada pela primeira vez por Judy Garland a Margaret O'Brien naquela que seria a versão mais triste da canção, levando a audiência inteira às lágrimas)

Have yourself a merry little Christmas,
Let your heart be light
From now on,
our troubles will be out of sight

Have yourself a merry little Christmas,
Make the Yule-tide gay,
From now on,
our troubles will be miles away.

Here we are as in olden days,
Happy golden days of yore.
Faithful friends who are dear to us
Gather near to us once more.

Through the years
We all will be together,
If the Fates allow
Hang a shining star upon the highest bough.
And have yourself A merry little Christmas now.



The Christmas Song

(uma das canções de Natal mais «blue» de que há memória cantada na voz acolhedora e triste de Nat King Cole)

Chestnuts roasting on an open fire
Jack Frost nipping at your nose
Yuletide carols being sung by a choir
And folks dressed up like Eskimos

Everybody knows a turkey and some mistletoe
Help to make the season bright
Tiny tots with their eyes all aglow
Will find it hard to sleep tonight

They know that Santa's on his way
He's loaded lots of toys and goodies on his sleigh
And every mother's child is gonna spy
To see if reindeer really know how to fly

And so, I'm offering this simple phrase
To kids from one to ninety-two
Although its been said many times, many ways
Merry Christmas
Merry Christmas
Merry Christmas to you



Boas Festas,

Tiago Pimentel

quarta-feira, dezembro 24, 2003

E porque esta é uma época tão especial e, sejamos francos, exterior já a quaisquer condicionantes apenas cristãs, é quase imperativo que relembremos alguns filmes que marcaram o Natal e, já agora, também se deixaram por ele marcar. É verdade que o Natal transporta consigo uma aura mística que permite sempre divagar na ambiguidade da tristeza e da comunhão, da solidão e da família, do material e do invisível. E torna-se cada vez mais difícil contextualizar uma história ou um filme nessa época sem se transformar num lugar comum. Até porque os contadores de histórias ou os cineastas confiam que filmar os bonecos de neve ou as árvores de Natal é suficiente para se recriar o espírito. Ou seja: por infeliz equívoco, confunde-se o espírito com a matéria, erro cada vez mais recorrente e contemporâneo. Não é o caso dos filmes que relembro a seguir, onde se filmam todos os adereços como elementos que contextualizam uma data mas onde a verdadeira mística espiritual se respira no indizível, exterior aos enfeites e aos presentes.


It's a Wonderful Life (1946), de Frank Capra

- Um dos mais belos filmes de sempre. O rigor clássico e o sentimento sempre genuíno de Capra transformam este filme num dos mais poderosos contos de Natal alguma vez filmados.

Miracle on the 34th Street (1947), de George Seaton

- Um imortal clássico sobre um simpático velhote que diz ser o Pai Natal. Um filme que coloca em tribunal as mais importantes crenças e valores humanos.

All That Heaven Allows (1956), de Douglas Sirk

- Um dos mais belos melodramas de sempre e, como em toda a filmografia de Sirk, dentro da amplitude infinita do seu «scope» reprimem-se todos os sentimentos que as personagens vivem. Até mesmo o Natal.


The Apartment (1960), de Billy Wilder

- Uma história de amor que caminha para um final natalício, carregado do mais espirituoso humor e da mais comovente atmosfera romântica. Um dos melhores de Wilder, sem dúvidas.


Annie Hall (1977), de Woody Allen

- Natal, Nova Iorque e Woody Allen. Nada mais precisa ser dito. Apesar de ser um filme que não condiciona o seu contexto a uma data específica (mas passa também pelo Natal), há algo de natalício que percorre o filme inteiro.


Gremlins (1984), de Joe Dante

- Um filme de culto sobre umas pequenas criaturas que iriam aterrorizar o Natal de uma pacífica comunidade. O Natal também pode existir sob a forma de um filme de terror.

Die Hard (1988), de John McTiernan

- Um dos mais sublimes filmes de acção e suspense contemporâneos e também dos mais esquecidos quando se fazem as listas dos filmes de Natal. Yippee-ki-yay!

When Harry Met Sally (1989), de Rob Reiner

- Uma belíssima comédia romântica que, não se limitando apenas ao Natal, resgata muito do seu fulgor da reacção das personagens com a época natalícia. Um bom pretexto cinéfilo para qualquer lista em que o queiramos colocar.


Batman Returns (1992), de Tim Burton

- Um dos filmes máximos de Burton e o casamento perfeito entre o cinema de aventuras e o espírito do Natal. Sobretudo quando a questão central do vilão se reduz a algo tão decisivo quanto isto: afinal, quem sou eu e de onde venho? A procura de uma raíz familiar por parte do Pinguim não é acidental e remonta às questões mais tradicionais que definem as mais belas fábulas do cinema.

The Nightmare Before Xmas (1993), de Henry Selick (enfim, de Tim Burton)

A animação natalícia por excelência que marca o confronto entre o Halloween e o Natal. Um mundo enigmático e estimulante criado pela arte narrativa, estética e moral de Tim Burton.


'R Xmas (2001), de Abel Ferrara

- Magnífico filme sobre a coexistência da dimensão etérea do Natal na vivência urbana de Nova Iorque. Abel Ferrara é genial.


Catch Me if You Can (2002), de Steven Spielberg

- Um dos mais poderosos filmes feitos sobre a tristeza de perdermos lugares onde julgávamos pertencer e onde pensávamos poder habitar novamente. O Natal pode ser a época mais triste do mundo.

Cumprimentos e Bom Natal para todos,

Tiago Pimentel

segunda-feira, dezembro 22, 2003

Primeiro revisionamento de «In America» (comentário contém informação irrelevante sobre o final mas que alguns poderão entender como spoiler)

Fui rever hoje o filme de Jim Sheridan. Não acontece todos os anos, mas de vez em quando lá aparece um filme pelo qual nos enamoramos e, com todo o fulgor que o amor nos concede, sentimo-nos preenchidos pela sua irredutível beleza. É um pouco como uma deslocação onírica, sentirmos que o espaço nos abandonou e, no seu lugar, deixou-nos apenas as ressonâncias mais íntimas do nosso Ser. E «In America» teve esse efeito em mim: é um daqueles filmes que transforma cada imagem numa espécie de projecção de luzes e formas divinas que descodificam os enigmas mais íntimos que guardamos cá dentro. É um filme sobre a morte. Mas sobretudo sobre como aprender a viver com a morte. Aliás, percebendo que aceitar a morte é decisivo para aceitar a vida. É nesta transferência constante que «In America» projecta toda a sua verdade, como um documentário da emoção humana. E no último plano ouvimos «Can you see the image? That's how I want to remember.» E na imagem vemos a cidade de Nova Iorque. Não é spoiler nenhum, não se preocupem. É apenas algo de sintomático que percorre o filme desde o início e que demonstra como, desde «E.T.» até «As Vinhas da Ira», soube mostrar aos americanos de onde vem e qual o seu objectivo. É a dádiva de Sheridan ao povo americano e premiá-lo com um Óscar seria reconhecer, finalmente, que depois do fatídico 11 de Setembro há que tentar dizer adeus aos corpos falecidos das várias famílias que ainda nos acenam no céu, iluminados pelo calor da lua e pelos neóns de luto projectados a partir do solo onde outrora se erguiam duas das torres mais elevadas deste planeta.


Tiago Pimentel

quinta-feira, dezembro 18, 2003




Pois é, serve este post apenas para assinalar o 57º aniversário de um dos cineastas máximos da História. Steven Spielberg completa hoje 57 anos, no ano em que fez o filme onde, pela primeira vez, o seu herói não consegue regressar à mãe (a casa). A idade e o tempo são sempre instrumentos decisivos na reconversão do olhar, isto é: na forma como percebemos o mundo e a multiplicidade de pequenos fenómenos que o definem. E isto deixa-me um pouco triste, até porque «Catch me if you Can» foi tratado de uma forma estranhamente leviana, como se fosse uma comédia frívola e simpática ou, num absurdo limite, um filme com algum peso dramático sobre a infância. Em toda a sua dor, «Catch me if you Can» é um dos mais subtis filmes feitos sobre a tristeza de crescermos com a falsa ilusão de pertencermos a algum lugar. E olhar desta maneira talvez só seja mesmo possível aos 57 anos ou lá perto.

Tiago Pimentel

terça-feira, dezembro 16, 2003



Confesso que fenómenos da nossa televisão como «Operação Triunfo», «Big Brother» ou outros da mesma família, costumam passar-me completamente ao lado. Geralmente enquadram-se num dispositivo mediático que em nada favorece o lado complexo do humano, reduzindo-o a uma conjuntura linear de acções e reacções provocadas por uma ideia genérica que não possui os fundamentos inteligíveis para se tornar num conceito. Em todo caso, o programa «Ídolos» da SIC, cujo princípio de trabalho me suscita algumas resistências (sobretudo se nos lembrarmos que o insulto nunca foi avalista da ironia nesse programa e era tudo tratado na base do pior bairrismo possível) foi, no entanto, bastante rico na descoberta de uma massa musical. Aliás, em alguns zappings acidentais, devo dizer que a diferença qualitativa das vozes deste programa para o da concorrência (Operação Triunfo) é notória. Sobretudo se contarmos com um pequeno fenómeno de 16 anos que vulcaniza os palcos cada vez que enche os pulmões com a sua respiração tímbrica. Deixo-vos com um pequeno texto que redigi sobre este fenómeno chamado Luísa Sobral e, já agora, a convidar-vos (a quem não conhece) a espreitar este programa - não no sentido mais mediático e clubista com que tem sido promovido (e disso, os constantes apelos aos votos nos candidatos tem sido decisivo) mas, antes, observando-o como espectadores sem compromisso com o seu conceito mas apenas com os seus efeitos. Ou seja: vamos ouvir (e ver) música. Aqui fica o texto:

Quem me conhece (seja daqui ou de outros espaços virtuais - e não só) sabe que raramente entro em discursos clubistas do género dos que passam em rodapé durante o programa. Nem é essa a razão que me levou a escrever este texto. Mas há, de facto, comportamentos dentro do programa que me provocam algumas reacções alérgicas e de urticária: a forma descarada como o júri do programa anda a tentar manipular a opinião do público. Dizer coisas como «ó Ricardo, ou ganhas isto ou não me chamo Luís» é uma das mais desavergonhadas, descaradas, despropositadas e irresponsáveis frases que alguém numa condição de júri poderia proferir.

Dito isto, acho que é altura de referir aquilo que me parece ser um dos fenómenos mais avassaladores dos últimos tempos musicais. Com 16 aninhos apenas, a mulher (e não menina!) chamada Luísa é uma espécie de sensação ou enigma. Gosto bastante da voz diferente do Nuno e do potencial do Ricardo, mas sem qualquer tipo de experiência musical eis que está esta senhora de 16 anos com um talento natural completamente explosivo. A diferença entre estar num país mais atrasado como o nosso e nos EUA é que cá é acusada de falta de maturidade e lá seria eleita rapidamente como a nova coqueluche do país.

Ouvi-la cantar uma versão de «House of The Rising Sun» foi uma das mais inesquecíveis e arrebatadoras experiências que me lembro de assistir nos últimos anos, não só em termos de cover mas mesmo em originalidade e personalidade artística. Na última gala eu estava algo nervoso. Ela vai cantar Rui Veloso? Como se sairá? Mas desde o primeiro momento que abriu a boca até terminar a canção que a minha respiração se suspendeu num êxtase progressivo. A sua voz estava em constante repressão e contenção, como se fosse uma alma dorida a sussurrar e a qualquer momento os seus sussurros pudessem explodir como um vulcão. A canção parecia voar na serenidade convulsiva da sua voz. Depois de terminar, eu perguntei-me: "mas será que ainda vai ser possível continuar a ignorar durante mais tempo o valor desta mulher? Todos os outros são fabulosos, mas esta Luísa a cantar transmite uma tal torrente emocional e uma expressividade corporal e vocal que não tem paralelo naquele programa."

Isto pensava eu a seguir a ouvir cantar este pequeno grande fenómeno. Mas, para meu espanto, o senhor Manuel Moura Santos fez um daqueles comentários que é quase tão embaraçoso e infeliz como o seu mau português. Este senhor decidiu despachar esta interpretação estarrecedora da Luísa de forma negativa em função da sua tenra idade. Talvez este género de comentários infantis (oops) se adequassem na perfeição ao início do programa (altura em que ainda se despachavam 90% dos cantores wanna be sem talento nenhum), mas neste nível já não me parece que alguns dos elementos do júri (para não dizer todos) sejam adequados ou estejam sequer à altura de comentar o que estão a ouvir sem cair em simplismos e facilidades opinativas.

O Sr. Moura Santos achou que a canção que a Luísa levou deveria ter sido cantada com mais profundidade uma vez que se trata de uma confissão de amor. Ora, sem querer ofender o senhor, parece-me que quem vai com umas trombas daquelas todos os dias para o programa poucos sermões pode dar sobre o amor... Falta de maturidade, meus senhores, é não reconhecer que uma canção sobre o amor tem muito mais valor e peso emocional se for cantada num esquema de constante repressão e angústia. Muito poucos se lembram de reformular mentalmente esta simples questão: afinal, de que falamos quando falamos de amor? Curiosamente, ao ouvir a Luísa cantar aquela música, a pergunta assombrou-me. Como é possível que alguém consiga cantar isto assim? Com tanta dor e expressividade e, ao mesmo tempo, com tanta naturalidade e originalidade. O excelentíssimo júri estava muito mais empenhado em querer manipular a opinião pública de forma a mandarem embora a Luísa do que propriamente a criticarem objectivamente. Primeiro porque uma coisa como "não tens experiência no amor" nunca se diz e prova apenas falta de civismo e maturidade, e depois porque não foi capaz de justificar afinal onde está essa falta de maturidade. Depois, a crítica que a Sofia Morais fez acusando a Luísa de cantar sempre o mesmo parece que só funciona para esse lado... porque se falarmos do Ricardo, aí já é um autêntico poliglota musical.

Devo dizer que gosto muito da voz do Nuno mas, sinceramente, muito pouco me transmite em termos emocionais. O Ricardo tem uma voz bastante cativante, mas gostava de o ver cantar um jazz vocal tipo Sinatra (parece-me que esse sim seria o seu estilo). A Rita sinceramente nada me diz, apesar de parecer tão simpática e dedicada ao que faz. Agora a Luísa é muito mais que apenas uma voz original ou afinada. É uma força da natureza, um talento explosivo à espera de ser descoberto e reconhecido. E, como sempre, os grandes talentos reconhecem-se em bruto: sem experiência, sem trabalho, sem escola e desde muito jovens. Eu acredito que o público português se consiga distanciar das manipulações do nosso júri malandreco e pense qual é o cantor que mais consegue transcender a qualidade de mero intérprete musical original. Em qualquer dos casos, parece-me que a qualidade dos intérpretes que habitam este programa dispensam discussões clubistas e as habituais fofocas de revista «teen» que os têm rodeado.


Tiago Pimentel

segunda-feira, dezembro 15, 2003

«LORD OF THE RINGS: The Return of the King»

Site Oficial



Stay close young hobbits



We want the precious! Must kill nasty hobbits!



Don't look at death as an end, but as another way



Frodo, to bear the ring of power... is to be alone



And why wasn't I included in the third film?


Este terceiro capítulo começa como uma espécie de medley das várias plot lines que foram sendo lançadas ao longo dos capítulos anteriores: o romance entre Arwen e Aragorn, a vida (i)mortal de Arwen, a aparição de Galadriel, o progressivo crescimento do olho de Sauron, a marcha do exército de Sauron, a caminhada de Frodo e Sam até Mount Doom, guiados por Gollum, o destino de Aragorn no trono de Gondor, etc. O problema é ser uma montagem de meras coordenadas referenciais que pouco avança no argumento, arrastando-se demais à espera das sequências visualmente esmagadoras das grandes e imponentes batalhas. Vale sobretudo pela sub-história de Sam, Frodo e Gollum a treparem montes e montanhas para se aproximarem cada vez mais das fornalhas de Mount Doom. Pouco a pouco, o verdadeiro herói deste capítulo ia sendo revelado e, desde já, um personal favorite...




De resto, a segunda metade resgataria o filme para aquilo que a trilogia de Peter Jackson tem de melhor: o impacto visual esmagador e sideral, os dilemas das personagens «bigger than life», a transcendência do espaço sobre os corpos, o ribombar das marchas que estremecem o terreno pintado com o vermelho do sangue de corpos que outrora berraram ao som coral dos bravos e valentes, a caminhada profética para a destruição do Mal percebendo-o não como uma entidade invisível mas antes como algo corpóreo e material que pode existir ao nosso lado e até dentro de nós em convulsões constantes.

Um último pedido: o Óscar para Sean Astin que de todos os actores foi sempre o que mais «nuances» imprimiu á sua personagem. Um último ponto negativo: os finais sucessivos que Peter Jackson teve que imprimir ao filme retiram-lhe algum fulgor e descuidam algumas personagens importantes como o caso de Ewoyn. Enfim, pode ser desculpado por ter cortado bastantes sequências com a muralha da inexpressividade chamada Orlando Bloom. At last, o desfecho digno para a trilogia mais importante dos últimos anos, relançando o conceito do épico tradicional para o espaço infinito que o digital poderá permitir no futuro. Afinal de contas, voltamos ao mesmo: o poder assustador da imagem.







Class.:


Tiago Pimentel

domingo, dezembro 14, 2003

Serve este post apenas como apontamento para sublinhar que já vi «O Regresso do Rei» e que, sendo um filme desequilibrado, é o desfecho digno para a trilogia mais importante dos últimos anos. Ao mesmo tempo que a trilogia dos Anéis chega ao fim, parece que as acusações cada vez em maior cadência à administração Bush poderão ficar mudas com a captura do ditador Saddam Hussein. Ambos comentários seguem brevemente.

Tiago Pimentel

quinta-feira, dezembro 11, 2003

Redescobrindo Nemo

Apeteceu-me escrever um pouco mais sobre uma das mais interessantes fábulas animadas que se cruzaram com o nosso olhar nos últimos anos. Até porque, na maioria das vezes, há uma tendência para se tratar as animações de uma forma displicente ou numa leviandade paterna que espelha o pior que o crescimento (ou talvez apenas a distância da infância) nos pode causar. Enfim, estou a falar de uma certa indiferença inerte que habita alguns olhares, nomeadamente quando captam imagens produzidas por um estúdio de animação. Como se a ausência da carne do actor vivo ou do negrume das ambiências manga pudessem reduzir uma animação como «Finding Nemo» a uma diversão infantil na qual nos podemos enquadrar mas de forma discreta, como passageiros ausentes que se julgam superiores às imagens simpáticas mas apenas cativantes para os olhos mais novos. Desde já recuso incluir-me neste grupo. Até porque «Finding Nemo» parece-me um dos objectos mais ricos da actualidade cinéfila e que mais pede para ser (re)descoberto. Há tantas subtilezas. A minha preferida talvez seja Dory, uma simulação divertida dos clássicos comic relief mas, ao mesmo tempo, uma dolorosa projecção humana do amor... perdido, sem memória e sempre à procura de um lugar onde possa pertencer. Nesse sentido, a sua deambulação errática pelo oceano é tudo menos arbitrária, isto é: tem um sentido. Acima de tudo, um sentido humano e cinematográfico. É ela a ponte entre o pai Marlin e o filho Nemo. E não poderia ser de outra maneira, afinal ela é a alternativa feminina à figura materna que, nem a propósito, morre no início. Mas há um lado humano que percorre todos os traços animados destas personagens, algo que nos relembra que o humano pode existir sob várias formas e não necessariamente revestido de carne e osso. Tem a ver com a abstracção que dispositivos como o amor, a carência ou a solidão impõem ao nosso olhar. É possível sentirmos algo pelas paisagens abstractas e desertas de «Once Upon a Time in the West» e também pela máquina HAL9000, de «2001, Odisseia no Espaço», bem mais humana que muitas personagens descartáveis que por aí andam a fingirem-se de humanas. «Finding Nemo» é um desafio decisivo ao grau de compromisso emocional que estamos dispostos a assumir perante corpos desenhados sem carne nem osso, mas que sentem, reagem e comportam-se como se fossem hologramas dos nossos corpos. É na nossa atitude frente a esse desafio que se define a maturidade de cada um.

Tiago Pimentel

terça-feira, dezembro 09, 2003



Site Oficial

«In America»

O projecto mais pessoal de Jim Sheridan, é assim que vem catalogada esta fábula realista sobre uma família irlandesa que tenta um novo começo nos EUA. É, de facto, um dos filmes mais pessoais de Sheridan: fala directamente sobre a sua vida familiar na América e tem importantes referências à sua vida pessoal. Mas não é apenas por isso que «In America» é um dos mais geniais e comoventes acontecimentos cinematográficos do novo século. É, antes do mais, uma triste, dolorosa e mística fábula sobre aprendermos a aceitar a morte para conseguirmos continuar a vida. Tem todos os contornos de uma fábula, desenhada pelas especificidades fantásticas das personagens, pelo feeling «era uma vez...» que se sente em cada plano, mas pintado com cores assumidamente realistas o que não deixa de emprestar uma certa tristeza novaiorquina ao filme - longe da violência de Scorsese e do carnaval cosmopolita de Woody Allen (ambas visões demarcadas e geniais da realidade que habita Nova Iorque).

«In America» é uma das mais comoventes, dolorosas, ternurentas e dilaceradas experiências do ano (em boa verdade, entre nós será apenas para 2004) com um trabalho de argumento, de ritmos e de construção das personagens absolutamente exemplares. Já há algum tempo que não víamos um filme tão encantador na forma como ilustra a transferência da morte para a vida. Ou seja, «In America» é um daqueles raros filmes que se centra decisivamente na forma como observamos a morte e como essa experiência pode ser tão enriquecedora na forma como decidimos viver. E as personagens são, nesse sentido, as fundações simbólicas do sonho americano: triunfar contra tudo e todos, mesmo em condições sócio-económicas deploráveis. Mateo, a personagem de Djimon Hounsou, funciona como a personificação divina e una dos valores familiares e humanos que todos, no fundo, procuram durante o filme. Não é por coincidência que esteja assombrado por uma condição fatal no filme inteiro, deificando-se e funcionando como um messias particular de uma pequena família, ensinando-os a acreditarem, a amarem e, no limite, a aceitarem a morte como uma nova forma de vida. Tudo isto filmado sem mostrar os sinais mais evidentes de uma Nova Iorque a lutar com os seus próprios desencantos interiores, como imagem urbana de uma família que já não acredita no amor depois da morte de um dos seus filhos. É uma América filmada a partir da Europa com o encanto da melhor tradição das fábulas americanas e o olhar desfeito de uma família amputada de um pilar (tal como a cidade que habitam agora). Todo o sofrimento e tristeza caminham de forma encantatória para um plano final da cidade de Nova Iorque onde todos os fantasmas se desmontam à luz da lua, a acenarem-nos como almas de um passado tormentoso que soubemos libertar e aprenderemos a recordar. Já há alguns anos que não havia filme com tantas razões qualitativas, emocionais, políticas e humanas para dominar uma noite de Oscars. Raramente os EUA foram filmados numa perspectiva tão distante e distinta mas de forma tão interior e convulsiva. Mais uma vez, resta relembrar que este é um filme de uma comoção imensa que inevitavelmente irá devassar o saco lacrimal. Ignorá-lo seria colocarmos em causa as necessidades dos nosso próprio corpo em expulsar e materializar as emoções que sentimos cá dentro.


Class.:

Tiago Pimentel

domingo, dezembro 07, 2003

A crítica dos leitores

O Nuno Gonçalves enviou-me um texto a dar conta do seu fascínio pela amarga comoção que «Sunset Blvd» desperta em cada um de nós. Numa nota pessoal, devo dizer que é também um dos meus Wilder de eleição e um dos mais tristes filmes feitos sobre a morte... do corpo e da arte. Inscreve-se naquele tal dispositivo melodramático onde «Limelight» é o rei. Fica aqui o texto do Nuno:

A história do cinema está repleto de momentos significativos que deixaram marcas profundas e que mudaram de certa forma a maneira como o público olha para este mundo complexo e inesgotável da 7ªarte. Billy Wilder concretizou estes momentos em diversas ocasiões, seja em comédia com “Some Like it Hot” ou na construção de suspense com “Double Indemnity”. “Sunset Boulevard” é também um desses filmes revolucionários, que se torna ainda mais especial pela visão real aterradora da própria indústria.
Joe Gillis (William Holden) é um argumentista fracassado que depois de conhecer uma esquecida e apagada estrela do cinema mudo, Norma Desmond (Gloria Swanson), toma partido das suas ideias megalómanas e mirabolantes de retorno à tela com uma adaptação cinematográfica da história de Salomé, escrita pela própria e que Joe iria ajudar a “limar”. Desmond acaba por se apaixonar pelo seu novo empregado e a obsessão começa numa espiral doentia e perversa.
O tema mais flagrante de “Sunset Boulevard” é a própria Hollywood e a maneira como uma grande estrela de outrora acaba por viver o resto dos seus dia numa sinistra e recôndita mansão em Sunset Boulevard, a estrada das estrelas e (como no titulo em português) o crepúsculo dos deuses. Esquecida e abandonada pela indústria que a tinha acolhido e tornado famosa e pela nova geração de público que já não a reconhecia, Norma Desmond é o retrato de alguém que perdeu o seu rumo e razão de viver, inspirado em factos demasiado reais de abandono de artistas pelo mero facto de já não serem jovens e terem perdido a sua frescura original que tantos fãs tinha cativado. Hollywood tem milhares de histórias destas que sempre quis ocultar de uma maneira ou outra, ignorando o facto de alguma destas pessoas serem a razão da existência dos grandes estúdios. Mas quem se esquece mais depressa é o público, que apenas quer ver novas caras no grande ecrã e quando a idade começa a tomar conta delas, viram os rostos para as mais recentes e jovens aquisições. Há uma cena chocante em que Gloria Swanson, que também tinha sido esquecida por Hollywood há longos anos, joga cartas com caras reconhecidas do passado como Buster Keaton, e que tal como Norma Desmond se encontravam ocultos do olho míope do público. Gillis trata-os como o museu pessoal de cera de Norma Desmond, que continuava a viver no presente a glória do passado, não deixando que a crua realidade a tomasse e a acabasse por matar, deixando-se permanecer na ilusão que um dia iria voltar e que o seu sucesso iria ainda ser maior. Mas se esta realidade era horrivelmente presente nos anos 40 e 50, ainda acontece nos dias de hoje. Tudo o que é novidade é excitante e alguém que passou boa parte da sua vida a pensar no entretenimento do público vê-se abandonado e rejeitado pelas mesmas pessoas que durante anos os louvaram e admiraram. Outro dos muitos sub-temas e histórias é a da obsessão de Norma por Joe e como ele se deixa cair na tentação e aproveita-se da loucura e paixão de uma mulher perdida que agora lhe providencia o seu próprio sustento. E esta história em muitos pontos toca na história de Salomé, história essa que curiosamente a própria Norma Desmond quer adaptar para cinema.
A decoração barroca e datada da mansão ajuda a criar o ambiente soturno e incómodo da vida de Norma, que ali encontra o seu sossego final, afastada do cruel e inóspito mundo real. Billy Wilder é absolutamente exímio na realização (e também escrita) não deixando o espectador virar a cara com pena e obrigando-o a assistir, em cada plano sinuoso do olhar dos actores, à lenta combustão e consequente demência de uma mulher que o mundo quis esquecer, criando um dos mais importantes filmes do cinema, que na altura chocou Hollywood e que agora serve de inspiração para cineastas tão importantes como David Lynch, que de “Sunset Boulevard” muito retirou para a sua própria visão da “terra dos sonhos” com Mulholland Drive.
Gloria Swanson tem em “Sunset Boulevard” a interpretação da sua vida, Norma Desmond, uma personagem agora imortal da história do cinema e que muito em comum tinha com a própria Swanson. A devastadora cena final ficará para sempre registada como uma das mais avassaladoras alguma vez filmadas, em que Norma Desmond, já completamente demente, recria fantasiosamente o seu retorno aos estúdios e agradece à equipa o apoio e as boas vindas e prepara-se para o seu grande plano. Não só o choque emocional é devastador como a própria ideia e sabor amargo que deixa ficar muito após o final do filme e como todos nós na realidade comprovamos esta terrível história e alimentamos a destruição de pessoas como Norma Desmond, que de ficcional muito pouco tem.

Nuno Gonçalves

quarta-feira, dezembro 03, 2003

A crítica dos leitores

A Andreia Martins escreveu-me a propósito do novo filme de Clint Eastwood partilhando o seu entusiasmo pelo rigor da realização e o desempenho notável dos actores:

Adorei "Mystic River", é um filme sobre um grupo de amigos em que um deles é violado por uma dupla de pedofilos. O filme desenrola-se a partir daí para a idade adulta onde mostra o tal grupo de amigos já dividido, cada um na sua vida. O problema é quando a morte da filha de um deles desencadeia um tumulto e o grupo tem que se voltar a falar. Velhos traumas vêm ao de cima e a amizade e o amor têm que ser postos à prova. O filme é muito negro e parece que não vê mesmo esperança nenhuma para o triunfo do amor. É um dos filmes mais cínicos que alguma vez vi. Mas o que mais preocupa é que não conseguimos deixar de nos sentirmos identificados com o filme, sobretudo com a personagem do Sean Penn (magnifico!!!!). Mas o actor mais sublime ainda é o Tim Robbins, deve ser muito complicado conseguir encarnar uma personagem assim tão traumatizada sem parecer apenas um conjunto de maneirismos. Mas todo o elenco está acima da média, até a magnífica Laura Linney no seu discurso fatal no fim do filme consegue "consumir" Sean Penn. Espero que o filme consiga chegar aos Oscars embora também saiba que é um filme que apresenta uma visão demasiado negra para as preferências da Academia. Bem, talvez seja mesmo o mesmo filme de Clint Eastwood, lá nos píncaros com "O Mundo Perfeito" e "Imperdoável". E o Clint nunca filmou tão bem!

Andreia Martins

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