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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Os melhores de 2005

Como já é hábito, aqui ficam as minhas 10 preferências para o ano de 2005. A ditadura hierárquica de filmes tem apenas um valor curioso, pelo que apenas a presença destes 10 filmes deve ser vista como incontornável neste (riquíssimo) ano de cinema.

1. War of the Worlds, de Steven Spielberg



Além de ser uma opção pessoal, é também uma escolha política: trata-se do primeiro grande filme a lidar directamente com o imaginário do 9/11 e com a assombrosa presença do terrorismo no quotidiano americano. Ou ainda: como reconstruir uma célula (familiar, social, etc) desfeita no epicentro de um corpo de destruição que lhe parece devolver vida? Uma obra prima intemporal que repensa a lógica blockbuster enquanto suporte cinematográfico que devolve o estatuto de arte ao conceito (por vezes, tão menosprezado) de entretenimento.

2. The Aviator, de Martin Scorsese

Um dos filmes máximos de Scorsese e uma obra-prima histórica. Um épico à altura de outros objectos (Citizen Kane, por exemplo) do património histórico de Hollywood, ocupando o seu merecido lugar nessa linhagem de cinema.

3. Million Dollar Baby, de Clint Eastwood

Uma das histórias mais comoventes dos últimos anos. Eastwood filma com o olho mais despido de romantismo que já lhe conheceramos, como se estivesse no fim do mundo e não existisse mais cinema exterior ao seu universo. Nesse fim, restam dois corpos - Eastwood e Swank - que, juntos, descobrem a possibilidade de desaparecerem um no outro.

4. Elizabethtown, de Cameron Crowe

Provavelmente, um dos objectos mais apaixonantes que encontrei nos últimos anos. Apaixonado e apaixonante, Elizabethtown redescobre a América como uma paisagem cinematográfica onde cada lugar é dono da sua própria musicalidade.

5. No Direction Home, de Martin Scorsese

Um dos conjuntos de imagens documentais mais brilhantes alguma vez montadas. Mais do que um documentário, No Direction Home convoca Dylan como herói típico do cinema scorsesiano, promovendo, assim, a desconstrução da sua cristalizada iconografia.

6. The Corpse Bride, de Tim Burton

Encantadora e trágica fábula sobre um triângulo amoroso assombrado pelo confronto entre as trevas e a luz. Mais uma vez, a moral efabulada de Burton assume-se como voz-off ausente que se eleva acima dos desejos pessoais de cada personagem. Um clássico instantâneo.

7. Star Wars - Episode 3: Revenge of the Sith, de George Lucas

O desfecho apoteótico de uma das mais populares sagas de sempre. Trágico como um melodrama, grandioso como uma ópera, Lucas recupera o filão e termina a saga com a herança digna da trilogia original.

8. Saraband, de Ingmar Bergman

O regresso de um dos mais brilhantes cineastas de sempre. Bergman filma os «monstros» mais medonhos, sem nos retirar a possibilidade de reconhecermos tratar-se de um dos mais belos filmes do ano.

9. In Good Company, de Paul Weitz

Paul Weitz libertou-se definitivamente do estigma 'American Pie' e assume-se como um talentoso contador de histórias, atento às mais subtis nuances dramáticas dos seus actores.

10. Crash, de Paul Haggis

Finalmente, não poderia faltar também a presença de um dos filmes mais falados do ano, sobretudo na imprensa norte-americana. Um filme decisivo a lidar com a discriminação racial nos EUA, desconstruindo laboriosamente os estereótipos que pareciam sustentar o início da sua narrativa.

Bom ano para todos e que 2006 esteja pelo menos ao nível de 2005,

Tiago Pimentel

segunda-feira, dezembro 19, 2005

De que música gostamos?

Um site muito interessante que nos pode ajudar a descobrir bandas novas do nosso agrado, ou mesmo a redescobrir músicas que julgávamos esquecidas. O princípio do site é simples: introduzimos o nome de uma música que gostamos e, a partir daí, é gerada uma rádio privada que irá transmitir canções na mesma geografia musical da escolhida inicialmente por nós. Mais do que um jogo de curiosidades, é uma genuína actividade cultural onde a música deixa de ser uma paisagem saturada pela sua imensa replicação e sobrepopulação, para voltar a ser um continente a descobrir.

O link a explorar: http://www.pandora.com

Tiago Pimentel

quinta-feira, dezembro 15, 2005




No Direction Home, de Martin Scorsese

Classificação:

Importa chamar a atenção para um dos fenómenos nucleares do ano cinematográfico: um documentário de Martin Scorsese, sobre os primeiros anos da carreira de Bob Dylan, com estreia directa no mercado de DVD. Sem hesitações: um dos objectos documentais mais insólitos e brilhantes dentro do género, não só pela riqueza informativa e documental que recupera (muitas das imagens são mesmo inéditas), mas também (e sobretudo) por convocar Dylan como uma convulsão de imagens que transcendem largamente o conceito tradicional do documentário, e o colocam como paradigma humano da sua própria arte. Dito de outro modo: Dylan, antes de ser um ícone, foi uma pessoa, vamos conhecê-lo nas suas infinitas convulsões.

Podemos falar em documentário de ficção? Sem dúvida! Mas não por ser um documento que inventa factos, nada disso; ficção, antes do mais, porque nos mostra Dylan como algo mais que um ícone cristalizado pelo tempo e pelos lugares-comuns. Nele reconhecemos também uma paisagem específica da história política e cultural da América e a sua fascinante desconstrução (desde o movimento de igualdade de Martin Luther King, até às convulsões musicais promovidas pelo debate ideológico da música folk e da música pop). Dylan é, de alguma forma, apanhado desprevenido na errância desse diálogo, no qual, desde logo, faz questão de habitar; seria como habitar no paradoxo, fazendo a primeira parte dos seus concertos com música folk (munido, apenas, da sua guitarra acústica em prole de um som mais puro que combatesse o som maquiavélico das guitarras eléctricas), e as segundas partes com uma banda completa e um som eléctrico que lhe valia incansáveis apupos e gritos que o denunciavam como traidor.

Scorsese viaja pelas imagens como se nelas se redescobrisse uma verdade imutável dos seres e do mundo. A saber: num mundo (seja ele dos anos 60 ou 00) onde parece apenas interessar integrar as imagens (sejam elas de telejornais ou de novelas) numa realidade compreendida pelos maiores simplismos de pensamento e pelos estereótipos da moda, Scorsese integra Dylan como uma miragem humana e artística exterior a qualquer rótulo que lhe queiramos colocar. Ele é, no limite, o paradoxo em que todos julgamos ser impossível habitar. E ninguém filma heróis assombrados pela incerteza da sua missão como Scorsese.

Tiago Pimentel

quinta-feira, dezembro 08, 2005



John Lennon (1940-80)

25 anos passaram sobre a morte de John Lennon e nesta altura convocam-se sempre palavras como "ícone", "activista", "génio" como alguns epítetos para nos ajudarem a relembrar os nomes que marcaram um tempo e que, por sua vez, também o tempo consagrou. Muitas vezes, a nostalgia pelos nomes que nos deixaram, cria um efeito bola de neve que acaba por colocá-los num patamar humano e artístico que, em boa verdade, não traduz correctamente a realidade histórica. Com Lennon aconteceu isso, de certa forma. Nada contra o seu génio musical; foi, aliás, um dos grandes compositores do séc. XX e, em semana de aniversário da sua morte, pouco se tem falado da sua música... e dos Beatles. As peças que têm passado um pouco pelos vários serviços noticiosos nacionais têm dado conta, sobretudo, do activismo político de Lennon e da forma como usou a sua imagem para reconstruir uma paz que se achava perdida, uma miragem só possível nas paisagens utópicas do imaginário (Imagine...).

Mas Lennon nunca foi um activista político. O ex-Beatle terá colocado a sua imagem ao serviço da mediatização popular; isto é: colocou-se ao lado dos ideais de uma juventude à procura de uma voz que os liderasse. O Rock tem alguns bons compositores que partilham esta sociologia messiânica, desde Bob Dylan (que, sabemos, nunca quis ter esse papel) a Paul Simon, passando por Bono ou Springsteen. John Lennon é um dos pais do Rock'n Roll, enquanto algo mais que apenas um movimento musical; acima de tudo, ele representa a herança política que hoje reconhecemos ao Rock. Lennon foi, sim, um idealista, um poeta de uma geração que se perdeu em si e na sua música. Foi um dos raros artistas que, depois de abandonarem a sua banda, quase conseguiu construir uma carreira a solo que a suplantasse. Fica o "quase" sempre agarrado ao nome de Lennon, por lhe ter sido negada a continuação da sua vida. Há 25 anos, Lennon recebeu cinco tiros de Mark Chapman e o mundo perdia uma das suas maiores vozes.

Tiago Pimentel

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