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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

quinta-feira, outubro 11, 2007





O último número da Premiere


Não é fácil assistir ao fim de um projecto ao qual pertencemos, seja ele qual for. No meu caso, como colaborador da revista Premiere, custa-me vê-la desaparecer desta forma. Ao fim de 8 anos e de ter conquistado uma posição estável no nosso mercado, a Premiere contava com a fidelidade de muitos leitores que, mesmo pertencendo a um nicho, não deixavam de justificar a edição do mês seguinte. E este sentimento de pertença é importante convocar, para não cairmos no erro de defendermos apenas números de forma mais ou menos abstracta. Ou seja, por trás desses números estão pessoas que seguiam a revista mensalmente e justificavam o trabalho e dedicação da equipa editorial e redactorial todos os meses.

Por trás dos números estava um público que, mesmo pertencendo a um nicho, assumia a sua própria pluralidade: onde uns procuravam as últimas novidades sobre os projectos cinematográficos em desenvolvimento, outros liam os textos de alguns autores que seguiam atentamente, sobrando ainda muito espaço para quem procurava informação útil sobre o ensino de cinema, escolas de realização, produção, imagem e som. A revista, antes do mais, assegurava esta pluralidade, oferecia aos seus leitores diversas razões para se manterem atentos, mês após mês. E é esta pluralidade e serviço que devemos sempre relembrar quando falamos de números e da revista Premiere.

Será possível chegarmos a uma altura em que não existe uma revista de cinema em Portugal? Pior, uma altura em que foi extinguida a revista de cinema que vigorava em Portugal há 8 anos. Por não haver necessidade de existir? Ou por ser demasiado fácil extingui-la? Ou por uma outra qualquer razão que a própria razão parece desconhecer. Seja como for, e falo neste momento enquanto cinéfilo e leitor ávido de qualquer forma escrita de cinefilia que me pareça interessante, creio que o país tem um público que intensifica os seus próprios nichos. Isto é, exigirá novas formas escritas de cinefilia que possam ir além de espaços bloguísticos como este. Afinal de contas, a Internet ganhou o seu lugar mas não desocupou o lugar da escrita tradicional. Existe no papel (sobretudo em revistas) um sentimento de pertença que escreve um pouco da nossa própria história. E, neste momento, seguramente que quem comprou o número 1 da Premiere poderá convocar essas memórias e esse carinho de efemeridade para si mesmo. O fim, diz o conhecimento popular, tem de chegar um dia. Goste-se ou não, era a única revista de cinema em Portugal.

domingo, outubro 07, 2007

Falsa opção

Há uns dias atrás, o episódio de Santana Lopes a ser interrompido numa entrevista pela chegada de José Mourinho a Portugal, colocou novamente uma velha questão deontológica na mente do espectador. Mais do que deontológica, eu diria mesmo ética. Ou seja: as televisões (muito mais do que isso: os serviços noticiosos) estão a servir o espectador ou a tratá-lo como parte de uma entidade global chamada "audiências"? Quem vos escreve nada tem de ingénuo e conhece bem as regras tácitas do funcionamento televisivo, concretamente da gestão dos tempos e prioridades noticiosas. Em boa verdade, a problemática nunca esteve na compreensão dessa gestão, mas sim na percepção distorcida que as televisões têm de hierarquias noticiosas. De facto, já há muito tempo que os próprios serviços noticiosos se agregaram à lógica sensacionalista que rege todos os produtos televisivos. O caso de Santana Lopes foi apenas mais um incidente que ganhou visibilidade pela reacção do lesado. E eu uso a palavra apenas com grande desencanto, acreditem.

Mas não foi isso que decidiu o texto que escrevo aqui hoje. Não se trata tanto de uma reflexão minha, mas mais um protesto revoltado. Hoje à tarde, a TVI transmitiu o filme Hook de Steve Spielberg com o habitual pan&scan que se encarregou de arruinar todo o arranjo cinematográfico do autor. Até aqui nada de novo (e digo isto com o mesmo desencanto de há pouco). A causa da minha revolta apareceu perto do fim do filme, quando alguém responsável pela gestão do canal (possivelmente apercebeu-se que já não havia tempo para apresentar um pouco do telejornal antes do jogo de futebol União de Leiria - Benfica) decidiu cortar os últimos 5 minutos de filme.

Uma decisão impensável e um desrespeito completo por quem decide dispender do seu tempo em frente a uma televisão, concretamente na TVI. O que está em causa não é o tempo que se corta, até porque neste tempo não estou a contar os créditos finais, parte do filme que já se tornou aceitável perder (o mesmo desencanto). Isto é, a decisão não é mais aceitável por se tratarem apenas de 5 minutos de filme, mas sim por se pensar que ninguém valoriza o suficiente esse tempo que nos é negado, depois de nos venderem tudo o que vem antes, incluindo as toneladas de publicidade que se vai pontuando. Um desrespeito pelo espectador e pelos próprios autores do filme.

E os mais ingénuos que se desenganem, a TVI não cortou o filme para mostrar uma notícia incontornável (à semelhança do que aconteceu com Santana Lopes). O corte foi uma mera decisão tomada com a ligeireza que os tempos actuais permitem. Neste momento falo com mais do que desencanto. Falo com receio. Com receio que se caminhe para um tempo em que todo o espaço televisivo deixe de funcionar como um diálogo entre a televisão e o espectador e passe a ser um monólogo arbitrário de editores que reconhecem no público apenas uma possibilidade estatística de aumentar o seu sharing. Se esta passou a ser a sua única função, então incompetência é um eufemismo que já não se adequa aos tempos da televisão moderna.

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