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Um site para pensar sobre tudo e chegarmos sempre a um singular pensamento final: sabermos que nada sabemos.
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Tiago Pimentel
Críticas dos leitores para: tiago_pimentel@hotmail.com

sexta-feira, outubro 28, 2005

Estreias da semana a reter:

O Senhor da Guerra - O novo filme de Andrew Niccol («Gattaca» e «Sim0ne»), com Nicolas Cage, é uma pequena e exemplar lição de cinema político, não só pela forma inteligente como se distancia dos juízos de valor mais banais e demagógicos sobre o uso e tráfico de armas, mas sobretudo por perceber que os seus efeitos nefastos filmam-se nas pessoas e não numa verborreica prosa de político reaccionário. A tempos dá a sensação que poderia ter ido mais longe e que, com mais uns 20 ou 30 minutos, poderia ter mergulhado ainda mais no seu vertiginoso universo dramático.

Wallace & Gromit: A Maldição do Coelhomem: Conto ver este filme hoje, mas os pontos de interesse são muitos e as expectativas ainda maiores. É o regresso das míticas personagens de plasticina dos estúdios da Aardman - que, tragicamente, incendiaram-se há poucos dias, e muitas das suas mais belas histórias e memórias ficaram desfeitas em cinzas.

Tiago Pimentel

quarta-feira, outubro 26, 2005



O cartaz de «Munich» e as formas de promoção contemporâneas


Este é o poster oficial do novo filme de Steven Spielberg: «Munich». Estamos a menos de 2 meses da sua estreia oficial nas salas americanas (cá será um pouco mais tarde) e aparece o primeiro sinal de marketing oficial. Porquê tão tarde? «King Kong» estreia na mesma altura e já lhe conhecemos o trailer promocional há quase meio ano. Em boa verdade, creio que existe, neste momento, um equívoco nas estruturas promocionais de Hollywood que passa, antes do mais, por algo tão simples quanto conhecer o tempo de promoção de um filme. Isto é: a partir de que momento a publicidade e promoção estarão a cativar a atenção do espectador e, a partir de que momento, estarão a saturá-lo? De facto, creio que filmes como os da saga nova de Star Wars - que, noutros tempos, seriam acontecimentos incontornáveis no seu próprio ano - foram-se lentamente banalizando na sua inesgotável linha de produção. Por outras palavras: este ano tivemos «Star Wars», «War of the Worlds», «A Lenda de Zorro», «The Island», «Wedding Crashers», etc - acontecimentos que, num tão curto espaço de tempo, acabam por se anular. Nem está em causa a qualidade e o labor dos objectos (é bom não esquecer que estamos a falar de universos distintos - quer gostemos dos filmes, quer não), mas sim a banalização dos seus inesgotáveis dispositivos de promoção. Tudo isto cria a sensação, no espectador comum, de estar saturado antes mesmo do filme estrear.

Por outro lado, «Munich» experimentou uma outra estratégia que me parece muito inteligente. Estamos a menos de 2 meses da sua estreia e nem um trailer. Só agora surgiu o seu cartaz oficial que nem possui ainda as famosas taglines (e, nisto, os filmes de Spielberg costumam também triunfar) anunciando um filme que habita na penumbra do marketing contemporâneo, fazendo-se notar pela sua invisibilidade e discrição. Creio que o trailer deverá aparecer durante o mês de Novembro, assim como o respectivo site oficial (outra ausência a destacar). Deverão ser introduzidas, pela televisão e outros meios de comunicação social, as respectivas contextualizações históricas e, seguramente, será relembrado (mais uma vez) que Spielberg é judeu e que até filmou o oscarizado «A Lista de Schindler».

Destaque ainda para a contenção implosiva da imagem que nos aparece no poster. Absolutamente anti-climática (e, num certo sentido, anti-épica a desmentir a sua própria imponência) e que radica toda a sua energia de um corpo (em boa verdade, uma silhueta) sentado no seu imenso desespero.

Tiago Pimentel

sexta-feira, outubro 21, 2005



O Castelo Andante, de Hayao Miyazaki


Class.:


É um evento, de facto, cada vez que um filme de animação do veterano Miyazaki estreia nas salas de cinema. Um evento, antes do mais, pelo estatuto que lhe é reconhecido, sobretudo, por colegas de profissão e admiradores da sua animação. Mas todo o encanto que possa habitar as suas ilustrações, rapidamente se esgota na arbitrariedade e redundância narrativas que as parecem dirigir. Posto de outra forma: dir-se-ia que não há uma estrutura que organize as imagens (magníficas) num fluxo de inter-relações entre as várias etapas da história. Em boa verdade, esse era um dos problemas máximos de A Viagem de Chihiro e volta a sê-lo, embora com outras agravantes, em O Castelo Andante.

Há, de facto, um lado «bigger than life» que os seus filmes nunca conseguem resgatar, cometendo o engano de transformar todos os personagens dos seus filmes em corpos semióticos que se mobilizam para uma aventura sempre espectacular, mas limitada aos seus próprios artifícios visuais. Antes de serem humanos, os personagens de O Castelo Andante são metáforas, símbolos esgotados na sua própria simbologia e submetidos aos delírios narrativos a que ela se permite. A magia (no seu sentido mais literal e restrito) acaba por se banalizar na sua imensa sobrepopulação e nela faz, igualmente, desaparecer os poucos personagens que podiam ainda existir.

Desde uma bruxa anafada usurpadora de corações (símbolo da velhice), até um homem-pássaro com complexos capilares (símbolo da beleza e da juventude), nada do filme existe para além da suas funcionalidades esquemáticas. Exige-se a Miyazaki, um universo mais concreto, não nas suas ideias, mas nos corpos em que as trata; que os corpos deixem de ser uma colecção de símbolos e passem a habitar nos seus próprios lugares, com todo o cuidado narrativo que essa ambivalência implica. No limite, os personagens de O Castelo Andante são citações e não concretizações do amor supremo que Miyazaki há tantos anos procura, consumidos por todo um universo de magia limitado ao seu próprio academismo.

Tiago Pimentel

domingo, outubro 16, 2005

My Morning Jacket

Uma descoberta prodigiosa: uma banda (My Morning Jacket) que lança o seu quarto álbum («Z») e redescobre o rock como paisagem de improviso e experimentação de sons. No limite, redescobrem a dimensão Jazz implícita ao Rock & Roll, desmentida constantemente por riffes de guitarra baptizados pelo rock dos anos 80, e reforçada, com a mesma intensidade, na serena imprevisibilidade que neles sentimos. Provavelmente, o espaço musical que pertence genuinamente ao rock dito alternativo (porque de improviso e experimentação) que eu procurava há algum tempo e que, ao contrário da maioria da crítica musical, não encontrei nos Arcade Fire (musicalmente sempre muito bons, mas com um vocalista que arruina qualquer potencial musical). Três músicas para ouvir de My Morning Fire:

Gideon:
http://threejivekids.com/~jon/My_Morning_Jacket-Z-Advance-2005-uF/03-my_morning_jacket-gideon-uf.mp3


Dondante:
http://threejivekids.com/~jon/My_Morning_Jacket-Z-Advance-2005-uF/10-my_morning_jacket-dondante-uf.mp3


Lay Low:
http://threejivekids.com/~jon/My_Morning_Jacket-Z-Advance-2005-uF/08-my_morning_jacket-lay_low-uf.mp3

Tiago Pimentel
Novo blogue de cinema - Claquete

Um acontecimento que merece destaque: a criação de um novo espaço de debate de cinema, no qual me incluo como co-fundador. O Claquete é um espaço que, antes do mais, se quer de reflexão de cinema sustentando sempre a democracia das diferenças. Foi, aliás, por causa das diferenças que sentimos necessidade de criar um espaço que as explicitasse. Será um blogue que, espera-se, preencha mais um espaço na blogosfera e se complete com tantos outros já existentes (este incluído).

Tiago Pimentel

sexta-feira, outubro 14, 2005



Alice

Class.:


O peso mudo das imagens

Existe em «Alice», algures na penumbra azulada das suas imagens, uma indiferença generalizada pelos corpos que as habitam e pela dor que neles se sugere. Em boa verdade, tudo em «Alice» é sugerido, mas nunca habitado: desde o «filmar» da ausência até à manifestação plural da dor por ela provocada. A ausência de quem? Da filha, Alice, desaparecida há vários meses. A dor de quem? Dos pais: Nuno Lopes e Beatriz Batarda, o crente e a descrente. O pai, Nuno Lopes numa irreconhecível barba, nunca deixa de acreditar na possibilidade de reencontrar a filha, utilizando mecanismos próprios e recorrendo a um sistema de vigilância privado. A mãe, Beatriz Batarda, é a figura destruída, aquela que já não acredita e, por isso, se deixou vencer pelas lágrimas. O lugar-comum diria que «Alice» é um filme de actores, mas, arriscando uma frontalidade nada popular, dir-se-ia, antes do mais, que é um tremendo equívoco narrativo. Um argumento circular, balofo e repetitivo, esgota todas as suas ideias nos primeiros 20/30 minutos e utiliza-as para preencher o resto da sua duração, como um esforço frustrante de barrar um pedaço insignificante de manteiga numa enorme fatia de pão.

Existe uma ditadura de imagem onde os personagens parecem desaparecer, convertendo-se em peças decorativas e indivisíveis do azul obsessivo que as dirige – e eles, pobres actores, nada mais são que andróides subjugados a essa força ditatorial, marionetas numa encenação programática e artificial. Um agradável oásis: redescobrir Beatriz Batarda, um corpo exterior a qualquer ditadura. Nuno Lopes, uma figura eficaz da mimificação silenciosa da dor, mas inverosímil na sua limitada expressividade vocal. Uma cena que desmancha todo o calculismo programático do filme: a personagem de Nuno Lopes avista uma criança que lhe parece a filha, percorrendo vários quilómetros atrás dela, sem nunca ser capaz de a chamar a si, nem mesmo quando está ao alcance de uma mão. Um filme de uma tremenda crueldade para as suas personagens. Não pelo drama que lhes impõe, mas pela presença que lhes nega.

Tiago Pimentel


Last Days

Class.:


Uma das maiores desilusões do ano. Um filme que recupera um «olhar» semelhante (a mesma «câmara», se quisermos) do anterior de Gus Van Sant – o sublime «Elephant» - com uma importante diferença. A saber: se a «câmara» de «Elephant» (aparentemente distante e científica) era como um corpo (mais um) invisível que expunha, por completo, a intimidade de uma certa juventude (a tal que vivia num imaginário que invocava o desastre de Columbine), já a «câmara» de «Last Days» não parece pertencer a sítio algum, nem a personalidade nenhuma. Cobain (em boa verdade, é apenas uma inspiração) reduz-se a um ser anónimo, a uma ideia de personagem que nunca chega a existir. Esse anonimato existia, de certa forma, em «Elephant»; mas nunca foi identitário; isto é: os personagens do liceu cruzavam-se como fantasmas que já percorrem os corredores de um cemitério, sem saberem que morreram, mas é impossível distanciarmo-nos das suas motivações e pensamentos, de sermos os seus cúmplices (de certa forma, de morrermos também com eles, no final).

Em «Last Days», o anonimato é totalitário e nem a «mise-en-scène» de Gus Van Sant disfarça o deserto de ideias que absorve este filme. Um filme é mais do que uma colecção de planos, e os equívocos aqui começam logo pela gestão de personagens: um desequilíbrio incompreensível traduzido pela oscilação da câmara entre Blake e os diversos secundários (todos iguais, em motivações, uns aos outros, com a variação de um casal gay - na verdade, eram 2 casais heterossexuais no início que acabam por se contaminarem mutuamente - que vive com Blake, cuja única razão de presença é... exibir a sua homossexualidade). No limite, é um filme amputado de qualquer ideia narrativa, convertendo-se numa penosa elipse em volta de... nada. Não há nada que faça mover a imagem, nada que justifique a imagem seguinte, nem mesmo a ideia garantida (por conhecermos a figura de Cobain) de que esta é uma caminhada para a morte.

De Cobain, Michael Pitt guarda apenas o corte de cabelo, uma vez que a sua «composição» é de um anonimato invulgarmente autista, encaixando na perfeição no estereótipo do músico drogado, incompreendido, sofredor e explorado pelos amigos. Fazer durar os quase 100 minutos de «Last Days» à volta de um deserto de ideias, sustentado por meia dúzia de planos exibicionistas, mas que não querem verdadeiramente dizer ou mostrar nada, revela um pretensiosismo que torna este filme ainda mais insuportável. Os mesmos olhares que aclamaram o neo-realismo de «Alice», ficarão fascinados com este embuste de Van Sant. Parece que chegámos a uma altura em que a emoção e o sinal humano foram confundidos pela frieza cliníca e documental, pela falsa contenção (a contenção que esconde apenas o deserto humano). Estaremos a caminhar para um cinema que procura a contenção radical, escondendo a emoção e o sentimento? No limite, teremos que definir, novamente, o que nos leva ao cinema. Isto é: o que nos faz sentir? Porquê? Por que é que a «câmara» de «Last Days» tem tanto medo das suas personagens? Por que razão tem tanto receio de as mostrar?

Tiago Pimentel

quarta-feira, outubro 05, 2005




Os Irmãos Grimm


Class.: 0



Um enormíssimo bocejo para a fantasia incompetente e embaraçosamente amadora de Terry Gilliam, o cientista da imagem dos Monty Python e o efabulador por trás de imaginários tão ricos como os de «12 Monkeys» ou «Brazil». O novo filme de Gilliam é um disparate cinematográfico que se leva demasiado a sério, em comparação com o insuportável overacting dos seus actores (e, nisto, Heath Ledger e Peter Stormare estão particularmente irritantes) e com uma fotografia que pretende emular ilustrações saídas de um registo pictórico de época, com tinturas de aparente magia e florestas iluminadas pela sugestão do enigmático e invisível. Mas nada disto funciona: o overacting dos actores não faz funcionar um kitsch que se pretendia divertido e hilariante (por infeliz oposição, todos os maneirismos dos actores são arbitrários, irritantes e injustificados); enquanto a fotografia é de uma incompetência embaraçosa, construída à base de dois ou três cenários de estúdio iluminados por candeeiros de quarto ou holofotes da loja dos 300. Narrativamente é uma elipse sem ideias, com um pseudo-clímax que dura uma eternidade, onde não parece acontecer nada, à excepção do aparecimento de Monica Bellucci que assume, mais uma vez, a sua presença meramente decorativa. Um filme para esquecer rapidamente e esperar que o próximo de Gilliam não complete uma espécie de trilogia sequencial de falhanços.

Tiago Pimentel

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